Sou um minúsculo grão,
disperso pelo solo,
arrastado pelo vento,
lançado ao chão.
Feito uma semente
no bico do passarinho
procuro um abrigo seguro
pra germinar no outono.
Resisto às intempéries
levado pelas marés
repouso feito náufrago
em algum arquipélago.
Na rocha encontro substrato
apoio, salitre e adubo
pra cumprir o meu destino:
ser fonte de água, sombra e alimento.
Sabes que falo da minha natureza
de delgado corpo e vasta cabeleira,
que de longe gritam terra à vista
divisando minhas folhas de palmeira.
No bico de árvores migratórias
me desloco de Salvador a Java,
de Luanda a Havana,
dos cerrados às estepes
Como palmeira, ao tempo reverencio
e testemunho, as mudanças climáticas
os luares de românticos amores
os solares de verões paradisíacos
Ora, perguntas-me sobre os grãos,
pequeninos ante a imponência de meu caule,
mas, observes os generosos frutos,
prontos à colheita, maduros ou verdes, água sempre vertem...
Agora, permitas-me uma pergunta:
O que tens feito de tua natureza humana?
AjAraújo, o poeta humanista, tributo à palmeira, escrito em março de 2010.