SONETO DO JULGAMENTO FINAL

maria ivone, convenhamos:
acho que há muita propaganda enganosa com relação ao inferno. penso assim: se o céu for mesmo um lugar de gente bem comportada, vestida de branco e tocando harpa, mulher de um lado e homem do outro, sob os olhos vigilantes de deus e seus anjos delatores, eu não quero não. no inferno, como o diabo é o pai da luxúria, a coisa deve ser bem outra: bebidas, batucadas, boemias - uma zona total, e o diabo nem aí. esta história de fogo é mentira rs rs rs...

carinho,

j.

pois acredite, antonieta: por mais louco que eu aparente ser, ainda sou capaz de morrer de ( e por) amor. matar, nunca.

beijo,

j.

antónia,
ainda no século XVI, teresa de ávila, a grande doutora da igreja - a primeira mulher, ao lado de catarina de senna a receber este título -, falava no paraíso terrestre. ela almejava, antes do proclamado paraíso celestial, a todos o paraíso na terra, em vida. seus escritos, apreciados hoje até por ateus convictos, caso de josé saramago, várias vezes foram vistos com reservas pelos teólogos da época, o que ela acatava com humildade. várias vezes sofreram alterações e a autora, antes de santificada, recebeu ameaças dos letrados da igreja, como ela se dirigia aos teólogos (v. Vida, Teresa de Ávila). teresa era uma mulher letrada, mas era uma mulher, obediente a uma igreja misógena, onde a mulher sempre desempenhou papel de limpar altares e cantar no coro. o inferno está nos países miseráveis, na má distribuição de renda, nas crianças que, sem eira e sem beira, andam pelas ruas. aprendi com um teólogo franciscano que nós devemos amar o pobre e nunca a pobreza. claro que o meu soneto é uma brincadeira. mas se o céu - se é que existe - for esta merda de gente certinha e bem comportada,sob a vigilância de um deus que pune, olhe bem - meu anjo da guarda é brasileiro e malandro e boêmio, o inferno deve ser bom pra caramba.prefiro o inferno.

um beijo,

j.

tenho cá minhas dúvidas, mas como reza o código penal: na dúvida, pelo réu - ou seja, pela absolvição.

beijo,

j.