. façam de conta que eu não estive cá .
como hei-de figurar a existência de um coração que não o é. deslocá-lo até à boca e dar-to na forma de silêncios, preciso. meu corpo feito de sal, nos socalcos desérticos as palavras. preciso imolar-te a boca por dentro, roubar-lhe o céu, matar-lhe as estrelas, ser de noite. queria esfolar estas memórias. trago ao colo bichos, sujeitos à poética reconstrução temporal dos afectos, queria deles construir-te um sonho novo. quando os olhos se partirem que ensines os dedos a afogarem-se na pele. cegueira. ao tacto dedica todo o tempo de nascer, de crescer, de morrer, que o tacto dentro há-de morder-te a solidão. do coração um par de mãos suspensas, prontas para a queda vertical do medo. este sossego é feito de sangue e vísceras, se te faltar a calma vomita de uma vez os movimentos. um dia há-de ser tarde para ser nosso o tempo, este, em que figuro o lugar certo para amar-te.