Enviado por | Tópico |
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jaber | Publicado: 22/03/2010 22:33 Atualizado: 22/03/2010 22:33 |
Membro de honra
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Re: 114
gosto de te ler em voz alta, só para mim e faço-o num murmurio egoista, para mais ninguém ouvir, só eu e a placidez errática para onde me transportas.
Beijo nesse Mar |
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Moreno | Publicado: 23/03/2010 00:23 Atualizado: 23/03/2010 00:23 |
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Re: 114 à mar
Citando:
sonhar é crescer mais depressa, esticar os braços, até doer as axilas, os músculos, os ossos, pegar na lua e enfiá-la na copa de um pinheiro tosco, vê-la minguar, crescer, saber que dela se fazem as madrugadas fora do coração, tê-la. fica dentro da pele esta expressão um beijo |
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Alexis | Publicado: 23/03/2010 08:13 Atualizado: 23/03/2010 08:14 |
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Re: 114
“Volver as nove musas em noventa viúvas/ é aliás tão fácil tão fácil que arrepia/ Basta acender um zero depois de cada uma/ e mergulhar os braços num poço de neblina”
david mourão-ferreira tal como tu,mar...sempre o amor-morte em acção...pelos labirintos da alma. às vezes penso que te entendo bem ,de certa forma, porque és o meu oposto.eu estou para a vida como tu para a morte.eu "luto" com uma, tu "lutas" com outra.rs. mas ambas as sabemos amar,aceitar,à nossa maneira. beijos alex |
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Maria Verde | Publicado: 23/03/2010 18:18 Atualizado: 23/03/2010 18:18 |
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Re: 114
amei todo, mas destaco esse fragmento Margarete,
"...que entendessem que os semi-círculos são como nuvens, que vão e vêm. sonhar é crescer mais depressa, esticar os braços, até doer as axilas..." bj |
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Margarete | Publicado: 24/03/2010 23:34 Atualizado: 24/03/2010 23:34 |
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primavera surda de manuel fernando gonçalves
Cinquenta estrelas brilhantes explodiram
quinhentas contra a minha cabeça, cinco mil ideias desfeitas de encontro ao frio que o meu corpo transporta, inimigo evidente dos dias internacionais, da paródia beata da poesia. Hoje é o dia mais internacional de todos: é o dia da falta de água, dia de guerra total com pevs à mistura, bandeiras e missa cantada. Nem um milímetro de emoção turvou a minha vontade de viver à beira do naufrágio imaginado, nas margens de uma viagem só de fantasia: abominável sobra de abandono, como mais ou menos dizia o manoel de barros, era o que faltava pôr-me a crocitar na estepe sem fim. Bem ouço as estrelas a rebentar, lá em cima, à distância de um gesto que ouso para te tocar, para te abrir o corpo voraz, para trocar a ordem dos teus elementos. Ouço e sinto a lógica desmedida das mãos, a sensibilidade repetida do caos, o fogo intenso da distância. Insisto: na minha mota levarei uma bandeira insensata, vou acelerar até ao desejo infinito e, depois, quando os olhos se inundarem de cinco mil estrelas pálidas, bruxuleantes, indecisas, hei-de acordar do pesadelo com o estrondo do motor a ser igual a uma ideia desfeita, reduzida ao monte de latas em que te cortas, concepção desigual do mundo, áspide capaz de paralisar o mal de escrever. Não te vou confundir com o amor, não te direi palavras amáveis, promessas, sequer vou colher flores de ouro, pedras singulares do caminho por onde desatino. Quero, apenas, vestir a minha armadura de couro, usar luvas de cetim, mascarilha bordada e um grande, grande emblema de nada. Conto as gotas de água. Meço as palavras da poesia. Dou-te o meu corpo: assim me confundas no firmamento, pedaços. manuel fernando gonçalves |