O DRAGAO DE SETE-CABEÇAS
Agora ele tinha que ser o heroi e enfrentar por mais um ano aquele dragão de tantas cabeças: Cabeça-de-Geografia, Cabeça-de-História, Cabeça-de-Inglês, Cabeça-de-Ciências, Cabeça-de-Educação-Física e as duas consideradas por todos as mais terríveis: Cabeça-de-Português e Cabeça-de-Matemática. Estas duas já tinham lhe causado muitas noites mal dormidas no ano anterior.
Seu corpo ainda apresentava alguns chamuscões provocados pelo fogo das ventas do bicho. Tinha certeza que a cada ano, a cada novo início de ano, o monstro renascia das cinzas com mais vigor, por isso, teria que desembainhar sua espada, seu material escolar e munir-se de muita coragem e altivez para enfrentar o primeiro dia de aula. Foi o que fez.
Na entrada da Caverna, encontrou os velhos companheiros da última jornada. Faltavam alguns que trocaram de caverna e outros que saíram terrivelmente feridos da batalha anterior e teriam que refazer o caminho. Ulisses não perdeu tempo, cumprimentou e imediatamente os reuniu.
Juntos prepararam as estratégias e traçaram os objetivos. Tudo pronto. Um som estridente ecoou, não estranharam, era o primeiro sinal do ano letivo, logo depois entrariam em cena as sete-cabeças do bicho. Era hora da apresentação dos professores.
Sentados, porém alertas, ficaram a espera. A expectativa era angustiante. Sentiam-se como se estivessem à beira de uma lagoa e que dali, a qualquer momento, fosse emergir o terrível monstro.
- Ulisses!
- O que é Teseu?
- Veja quem chegou atrasada!
- Meu Deus, é a Penélope, a minha princesa!
A garota lhe dava mais coragem para enfrentar a batalha, soubera, por comentários de amigos, que ela já estava na dele desde a batalha anterior. Ele tinha esperança de juntos vencerem mais uma e assim viveriam felizes para sempre como nos contos de fadas.
A Cabeça-de-Geografia falou primeiro. Era a mais alta de todas, tinha os olhos em alto relevo o que inspirava grandes cuidados. A segunda a se declarar era a Cabeça-de-História, apresentou-se com o mesmo olhar seguro e penetrante dos tempos passados. Em seguida falou a Cabeça-de-Inglês, como sempre com as língua enroladas lascivantes e perigosas. As Cabeças-de-Ciências e a Cabeça-de-Educa Física foram rápidas e objetivas, diretas ao ponto. Faltavam ainda as duas mais terríveis cabeças: a de Português e a de Matemática.
A Cabeça-de-Português tomou a palavra. Ulisses buscou no olhar de Penélope as forças que precisava. Os gestos precisos e comunicativos, o olhar doce e meigo da fera chegavam a hipnotizar, embora eles soubessem que por trás daquele rosto expressivo escondiam-se os perigos da palavra. Finalmente pronunciou-se a Cabeça-de-Matemática.
0 medo era geral. 0 raciocínio que usava era extremamente lógico e rápido, seu olhar era frio e calculista. Ulisses novamente tentou revigorar suas forças nos olhos de sua princesa, mas sentiu que necessitava mais que isso; pensou em tomar-lhe as mãos e fugirem. Foi quando sentiu Teseu tocar-lhe o ombro e dizer:
- Para essa cabeça usaremos a estratégia de grupo!
Refeito pelo olhar da amada e encorajado pela voz do melhor amigo, acomodou-se, porém ele sabia que daquela cabeça não sairiam meias verdades, nada escaparia, a coisa era exata. Sabia que muitos haviam rodado com aquela cabeça.
Passada a angústia dos primeiros dias. As aulas foram se sucedendo o tempo foi cedendo e aquele ano de 1993 já havia expirado. Não fora fácil a guerra, mas com muito estudo e dedicação, somados à paixão que desenvolvera por Penélope e a amizade sincera de Teseu, conseguiu seu intento. E claro que teve ajuda dos demais companheiros de classe, porém, ele, como líder da turma, realizara mais um grande feito heróico!
Ao final do ano, para selar o passaporte para a série seguinte, recebeu um beijo de sua princesa. Ainda com a marca vermelha do amor na face, olhou com firmeza aos colegas e de cima da carteira bradou:
- Companheiros, avante! Estudar não foi um bicho-de-sete-cabeças!!
- Desde que se tenha coragem! Concluiu Teseu.
(João Carlos de Menezes e Ademar Oliveira de Lima)
Exercitar a leitura é alimentar o intelecto!!!