NA ROTA DO ABSURDO
Esta manhã, não sei porque raios, fiquei a pensar na ignorância que há na profundidade do nosso conhecimento e no conhecimento que há na profundidade da nossa ignorância, ainda que principalmente. Neste instante senti-me deveras fundo no meu pensar, a pontos de chocar com a minha própria inteligência. Ninguém se feriu com gravidade, só umas pequenas moléstias como diria o galego atinado feito cozinheiro para as bandas de Lisboa.
A chuva continuava a cair sub-reptícia, enganadora como desde os primórdios e um nó górdio se lhe deu. Foi parar ao hospital onde lhe foi dada a absolvição. Ainda confuso dos meus neurónios, prossegui descalço só precisando de meias solas nos semáforos na barroca que vai e vem de minha casa.
A policia chegou a nado e em pelota à outra margem, constrangida e decepcionada com o meu mau desempenho na arte de cesteiro, que herdara dos meus bisavós, resolvi tomar o autocarro e, agarrando os ombros do motorista com punhos de ferro, retirei-o do seu posto, arrebanhei-lhe a vara das mãos e assumi o comando dos bois. Um dos bois era vaca e ordenhei-a ali mesmo, que havia quem tivesse sede, quiçá fome.
Chegado à adega a vindima estava feita, as uvas pisadas e, segundo consta o rescaldo poli grumado de duas mijas bem mandadas ao som de desaustinada concertina. A atmosfera em torno do lagar – misto de gases etílicos e intestinais – era de cortar à faca.
A mulher que até era linda mas burra, já lá estava a conciliar a beleza com a estupidez, que pelos vistos conviviam sem desaforos. Terminada a viagem e descido do cavalo dei por terminada a minha missão, apesar de ter caído para cima. No regresso para baixo e parafraseando o aforismo roubado ao pensador habituado a vomitar ignorância, apetece-me dizer: mais vale alguém todavia nunca mas muito principalmente metido em banho-maria. Isto ainda que mal pensemos.
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