Caminhei
com os pés dilacerados
pedras soltas pontigudas,
cortantes como cristal.
Reclamei ao vento e à areia:
o vento fechou-se em vento
e da areia nem sinal.
Perguntei à chuva:
ó chuva porque levaste
a macieza do areal?!
A chuva fechou-se em nuvens
e das nuvens em temporal.
Sem saber o que fazer
virei-me para a mãe terra:
o que foi feito do teu carinho,
tenho cortes dilacerantes
que fiz pisando o caminho?!
Cortes? Em mim não!…
O que tu vês são flores
de texturas diversas
e de muitas cores,
saídas das minhas entranhas
à custa de muitas dores.
São filhas dum Inverno vadio
que me violou e,
nessa penetração forçada,
rasgou-me as carnes lisas,
abriu ventres,
nasceram rios
taparam-se rios,
as pedras são flores.
São flores de lágrimas,
derramadas dias a fio,
sem sol, sem luar,
anémicas mas fortes,
feitas de mágoas,
arrancadas à força,
em partos com fórceps,
sem sutura e anestesia...
São flores de dores
e de melancolia.
Quisera eu ser poeta
Quisera eu ser pintor
Escrever telas e pintar poemas
Escrever, pintar, pintar,escrever
A humanidade com muita cor