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113

 


. façam de conta que eu não estive cá .







quando eu morrer diz às árvores que não podem deixar que a raiz lhes caia antes da folha.eu serei finalmente chuva em dias de outono, com folhas a voar-me entre, com ramos a impedir-me as quedas, com nuvens, contigo, com tudo. seremos finalmente amor. prometo esfaquear-te todas as insónias, velar-te as noites, inventar-te novos sonhos. e adormecer-te tranquilo o coração no regaço. saberás sempre de mim perto, coágulo no cérebro a pensar-te um mundo, outro. todas estas coisas que dizem de mim, não acredites, não há buraco de terra que me caiba no corpo. tu sabes que trago uma escuridão tão grande dentro, que as larvas já me habitam pele há muito, que estas músicas que me compõem são dias longínquos. todas estas memórias de nós ficam para ti e, no entanto, não fomos desta invenção coisa nenhuma. houve um tempo, um lugar que não perdoarei, nem à primeira imagem que tenho de ti, a fuga vertical de algumas lágrimas. o que deveria, o que poderia, o que fiz, ainda que muito mais continuaria por fazer se o tentasse, dói-me, como abrir os olhos e deixar fugir o coração. fica para ti este mundo seguro que criei para te proteger das minhas ausências, e até as minhas ausências são tuas como tas escrevi, com palavras, com sal, com tudo - fica para ti. quando eu morrer que nasça finalmente o nosso filho, se estiver preso corta-lhe o cordão umbilical, que seja livre quero como um pássaro. e a ti virão todas as palavras para que me escrevas, com pernas e braços e boca e tudo, que morta hei-de ter isso e hei-de aparecer-te no dia que te conheci, para te contar de como morri e de como me não deverias ter deixado só. quando eu morrer que não seja tarde ou cedo mas o momento exacto.




 
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Margarete
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Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 20/03/2010 02:15  Atualizado: 20/03/2010 02:15
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 Re: 113 para mar
"quando eu morrer que não seja tarde ou cedo mas o momento exacto"

como seria bom sabermos sempre do momento exacto das coisas.aceitar.sem desfasamentos de qualquer ordem.a hora da hora certa,plena de sentido.

como me doeu ler-te,minha mar.a ti e a toda a tua clarividência.sabes que sempre que te leio viajo contigo por dentro de ti,por dentro de mim,por dentro da vida.é como darmos as mãos e irmos.não há explicação e é indescritível essa sintonia.

terá sido mera coincidência conhecer-te?embora não entenda cabalmente,não creio.

beijo

alex

Enviado por Tópico
Amora
Publicado: 20/03/2010 02:30  Atualizado: 20/03/2010 02:31
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 Re: 113
Eu tenho que te roubar isso : até as minhas ausências são tuas. Porque quando fico um tempinho sem vir aqui eu me encaixo na tua escrita como uma luva mas também quando não me ausento dá no mesmo, entendes? Sei lá, acho é uma coisa de inveja, esse 'mal' que eu gosto de ter em relação a ti.
Beijo