SONHO PARTILHADO
Quis que a derme descrevesse um arco no horizonte
Envolvesse homens mulheres e crianças
Depois abri os braços ao céu aberto
Para acrescentar ao infinito mais infinito
Acreditei
Que todos se abraçavam
Numa legítima gargalhada.
Fotografei sorrisos e olhares
Mais brilhantes que pérolas de chuva
Agradeci ao sol a glória do esplendor
Provei a descomunal alegria exalada dos pássaros…
Todos festejaram o amor e a paz!
O amor era um pirilampo aceso nos corações
E a paz uma árvore plantada no cimo do mundo.
Fiz dos planaltos um miradouro cósmico
Das montanhas gigantes um momento de ternura
Do cume das ondas um relógio sem horas nem pressas.
O dia era agora!
Vindo de uma vigília forçada
Um frio polar rasgou a pele com violência
Acordou-me do sono de nunca dormir
Frustrou as paredes amorfas da sala…
Oh cínico engano!
Migalhas de sarcasmo ironia e maldade
Foi o que restou da utopia da festa
Da insanidade
No meu jardim de luz…!
Refastelados no abrupto cadeirão da indecência
Alimentaram-se da pueril alegria da alma e
Como sanguessugas
Definharam a felicidade
Beberam o sangue da mesquinhez
No vampírico cálice da estupidez!
Que dedo estendido vos acusava?
Que injúrias proferi?
Como anfitrião da vossa infâmia
Acusava-me apenas a mim!
De uma vez por todas
Decepai do vosso íntimo a intolerância!
Abri as comportas do vosso ser
A todos os que vos podem dar tanto!
Sê-de vós mesmo
Por um dia
E por um dia
Sonhai!
O musgo da minha fé tem a cor da certeza
Duma vitória mercenária
Numa batalha sem derrotados nem vencedores
Aquém da glória!
Quero partilhar convosco este megalómano sonho
Dum mundo mais justo!
Preciso dos vossos dedos floridos
Da vossa incandescente verdade
Para criarmos aquele Império de Néon
Aliciarmos a Plebe da nossa vontade!
No mais profundo de nós
Saciaremos a certeza
De sermos os construtores
Da nova sociedade!
5 Junho 2007
antóniocasado