Ser Feliz...
Parte II - Mas, e a REALIDADE?
A existência cotidiana nos mostra outra coisa: vivemos em estado de carência.
Somos humanos e, por tanto, vulneráveis. Cada vez que percebemos uma falta, sentimos desgosto.
Estamos assistindo televisão e de repente falta luz elétrica. Ficamos surpresos e começamos a gerar hipóteses. A primeira coisa que pensamos é que se trata de uma falha da casa. Imediatamente saímos para a rua e perguntamos aos vizinhos se têm luz.
Se trata de fatos simples e cotidianos porém não por serem assim deixa de surpreender-nos e nos deixar mal humorados.
O REAL nos golpeia bruscamente. E o que agrava a situação é que muita gente quer viver em um mundo feito sob medida, como Adão encontrou.
E tampouco falar, de acidentes, mortes, más notícias ou o telefone que soa às três horas da madrugada. Sobrevem um instante de desorientação até que encontramos alguma explicação que nos tranqüiliza ou algum recurso para resolver o problema.
Existem outros exemplos de irrupção de carências.
Pense nessas pessoas competitivas que necessitam possuir algo melhor que aquilo que uma outra comprou; ou aquelas que recorrem periodicamente a cirurgia plástica porque não aceitam o aparecimento de rugas próprias da idade; ou aqueles que devem trocar de automóvel porque "não suportam" que o modelo novo tenha "apetrechos" que o seu não possui. Os exemplos são infinitos como infinitas as carências.
Não reconhecer os furos ou querer tapá-los a todo custo, consome tempo, vida, esforço e dinheiro. A curto ou a largo tempo nada do que façamos servirá: aparecerá um novo computador, um novo modelo de automóvel, uma nova ruga, um corte de luz, morreremos.
Muitos raciocinam dizendo: se faço um curso de controle mental ou meditação ou leio livros de auto-ajuda ou faço este ou aquele seminário vivencial, vou receber a informação que necessito, o grande segredo para alcançar a completude, o "Grande Manual".
Logo, após todas as tentativas sobrevem a frustração: a completude não existe.
Se as pessoas buscam nessas técnicas o que cada uma pode dar, se sentirão satisfeitas? Porém não é isto que ocorre.
Este ou aquele curso de auto conhecimento "são boníssimos". Porém, passado um certo tempo, a completude não aparece, o entusiasmo cai e se reinicia a busca.
A diferença daqueles que buscam soluções mágicas, existem pessoas que sabem que o conflito está nelas mesmas e querem, se esforçam por conhecê-lo.
Percebem o conflito como alguma coisa que se sabe bem o que é, porém que se faz sentir por uma sensação de vazio, de futilidade, de uma indefinida angústia, de uma vivência profunda de que a vida, tal como está sendo vivida, não tem sentido.
Um "não sentir-se bem" do que não se pode falar porque, como dissemos, não se encontram as palavras apropriadas para defini-lo.
AjAraujo, o poeta humanista, texto de "O que se passa comigo? - Ser feliz! Parte II, utilizado para apoiar grupos de pessoas com dependência química ao tabaco, 2003.