UMA AVENTURA NA MONTANHA
Quando o sol está a pousar nos montes do lado de lá do rio, já Gonçalo e Beatriz estão dentro da cabana do velhinho da montanha de que lhes falara a Ana. O caminho foi ruim porque é caminho de cabra, mas é fantástico para os miúdos este ambiente que lhes era desconhecido. O velhinho é um homem simpático que os pôs à vontade e eles reparavam com curiosidade em todas as coisas que enchiam aquela velha cabana que dizem ser dos tempos dos mouros. Beatriz perguntou curiosa o que o velhinho fazia sozinho naquela montanha que muitas vezes se cobria de neve. Ele explicou-lhes o que era a sua vida ali e que há noite se entretinha a ler, escrever e muitas vezes a tocar violão, ao mesmo tempo que apontava para a viola que estava escondida detrás da lareira. – Fantástico! Observa Beatriz, que é mais palradeira.- Como era bom ouvi-lo tocar e contar as suas histórias!
Porque a noite ia já alta, o velho começou a dar uns acordes no violão, mas a ficar preocupado com o que pensariam os pais dos catraios ao sentirem a sua ausência. Mas ele não tem resposta a dar à situação, que não seja entretê-los. Ao fim de algum tempo de lindas histórias ele verifica que os miúdos adormeceram na paz de Deus. Quando o próprio velho cerrava os olhos ensonado, ouviu o toque daquilo a que chamam um telemóvel. Aguçou o ouvido e viu que ele vinha do bolso do Gonçalo. Depois de alguma hesitação achou que o melhor era atender, o que acabou por fazer atabalhoadamente. O diálogo foi esclarecedor e tranquilizante para os pais dos miúdos.
Na manhã seguinte, quando desciam a montanha com um sentimento de aventura dentro de si, a Beatriz observa inteligentemente para o Gonçalo: - Tu reparaste nesta cabana e no que é a nossa casa? Reparaste na vida simples que é a daquele velhinho, que não tem nem electricidade, nem televisão, mas que escreve histórias e toca tão bem violão? Eu acho que tu já dormias quando ele cantou uma cantiga da sua terra. Gostei tanto! Gonçalo, calado por natureza, não faz comentários mas está atento ao que diz a irmã.
Beatriz acrescenta com lucidez aguda para os seus dez anos: sabes uma coisa? E continua, já ouvi um dia alguém dizer que o que faz as pessoas felizes não é o dinheiro, nem as grandes casas, nem o luxo. Se queres que te diga eu achei este homem feliz, apesar de viver numa cabana e no meio das coisas simples mas importantes. Sabes que acho que ao ouvi-lo tocar e cantar fiquei esta noite a gostar de música?
E é tão bom adormecer a ouvir contar histórias!