Pássaros negros, pássaros negros!
Revoada trevosa, noite horizontal!
Onde está você agora?
Dama do barco, onde estás?
No céu a morte,
Mil espadas dilacerando-me,
E os malditos pássaros negros...
Olhe para Caronte,
Tão solitário em seu vagar,
Encontrei-te em minha morte,
Agora te quero, ó dama,
Dama do barco, dama do bote,
Vem dos pássaros negros me livrar...
Passagem comprada,
Paga com sangue e suor,
E a sua como foi paga? Qual a moeda?
Qual o motivo do teu inferno?
Onde pássaros negros voam ao redor?
Era noite, eu parti,
Encontrei a eternidade, atravessei a ponte,
Paguei os crimes que cometi,
E encontrei o barqueiro, velho Caronte,
Condutor infernal, igual nunca vi,
Transportando duas almas. A mim e a ti,
Levando-nos além da ponte.
Chegando ao destino, meu novo lar,
Você desembarcou, eu fiquei,
Um pouco mais, aguardando o talvez,
Esperando, não só por esperar,
Esperando, dos pássaros negros, o maldito au revoir
Pássaros negros, pássaros negros!
Onis, oyabuns e samurais,
Elfos negros, jotuns,
Vikings ancestrais,
E o maldito barqueiro apressado,
Fazendo chegar teu destino,
Infeliz barqueiro condenado!
Asas batendo,
Pousos desagradáveis,
Que fiz eu? Que estou merecendo?
Cá estou, pagando crimes impagáveis?
Cá estou eu, sofrendo,
Ah, como queria... Voltar a travessia!
Como Eu queria!
Deus meu! Deus meu!
Sei que é tarde, sei que o tempo já se foi,
Mas te peço, não faço alarde,
Clamarei a teu santo nome,
Pela bela dama que não mais vi,
Pela bela dama,
Que neste inferno me fez sorrir!
Caronte! Leves pássaros me chamam!
São os pássaros dos que se amam,
Deixe-me aqui, não quero desembarcar!
Esperarei a dama da travessia,
A mulher que me faz acreditar,
Numa fuga deste inferno algum dia...
E com ela, minha alma vai voar!
Pássaros negros! Pássaros negros!
Estou condenado ao fogo eterno,
Pássaros negros, aves demoníacas,
Recepção perfeita desse meu inferno!
Caronte, fale algo!
Diz-me agora, onde ela foi!
Os pés delicados, o vestido branco,
O amor de quem parou...
Sei que ela te olhava Caronte,
Por Deus! Diz-me o que se passou!
Que caminho ela pegou?
Diz-me e libere-me ó Caronte,
Dessa tua magnitude magistral,
É minha alma gêmea,
Minha solução final,
O amor da minha vida que ali vai,
Deixe-me seguir, a dama divinal!
Pássaros negros... Pássaros negros!
Tua negativa me corroi,
Corta meu corpo, dilacera minha mente,
Desestrutura e destrói,
Desfaz completamente,
E minha dama se vai,
Se perde nesse mar,
Chamas a queimar,
E os malditos pássaros negros...
Não sei mais de nada,
Essas asas farfalham em meu pensar,
Tantas asas, luz duma revoada,
Que eu desisto de tentar.
Caronte, leve-me ao fim,
Torture-me, bata-me,
Faça com que tudo fique menos enfadonho,
Tristeza é abrir mão duma amizade,
Horrível é odiar de verdade,
Heróico é abri mão de um sonho!
Você sorri, sorri... Maldito barqueiro!
Sorri com o meu pesar,
Barqueiro maldito, arauto do inferno!
Maldito senhor, das águas deste lugar,
Mestre das profundezas, peregrino do ermo,
Levou minha vida, e agora leva o meu amor,
Leve tudo, e leve eu mesmo!
E no céu, os pássaros negros,
Os mesmos e malditos pássaros negros!
Pássaros negros, que me fazem amaldiçoar!
"Ponha sua mão num forno durante um minuto e isto lhe parecerá uma hora,
Sente-se ao lado de uma bela garota por uma hora e isto lhe parecerá um minuto... Isto sim é relatividade!"
(Albert Einstein)