NÃO TENHO CAMINHO
Em vão
As palavras brotam como água
De uma nascente salobra.
Se algum sol brilha
De tão cego nem o vejo!
Passo pelas pedras
Que me circuncidam o caminho
Com o sorriso complacente
De um derrotado
Que na esfinge de um martírio
Parte a fatia do bolo da esperança
Com um canhão!
Ainda tenho tempo para dizer
Que sou feliz…
Ainda me sobra compreensão
Para apoiar os desvalidos…
Ainda levanto os braços no ar
Fecho e abro as mãos
Como se mondasse a esperança…
Ainda tenho tempo
Para ser criança…
Vã! Apenas vã!
A intenção inútil do grito
Sobre um rochedo de luz
Apenas traduz
O mistério dum sonho por desvendar
A utopia
Dum sentimento desenhado
No convénio do vento…
Nos cones de ferro de todos os gradeamentos
Cruzo o olhar e deixo a alma enredada
Nas varetas erectas
Que protegem o que de matéria existe.
É tão importante ter…
Em vão… Apenas em vão
O caminho deixado para trás
Numa sala vazia
Numa conversa muda
Num momento esquecido
Entre as frestas de uma múmia!
De rosto erguido caminho
Convicto de nunca chegar a lado algum…
Na boca retenho a palavra
Numa represa de emoções…
Na mente um pedaço de conforto
Apenas serve de consolo
Aos outros corações.
Mas vou
Com as mãos nos bolsos vazios
Sem ter onde ir!
16 Março 2010
antóniocasado