Poemas : 

ESPIRAL DE SONETOS - HOMENAGEANDO ALVARES DE AZEVEDO

 


Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti nos sonhos morrerei sorrindo -!

Álvares de Azevedo



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“Por ti nos sonhos morrerei sorrindo”
Após tantos momentos mais sombrios,
Enfrento meus temores, desafios
Enquanto um novo tempo; em ti deslindo

Vagando por tormentas, mares tantos,
Distante de teus braços, teus carinhos
Perfaço os dias tristes e sozinhos
A cada amanhecer, mais desenganos.

Pudesse ter enfim concretizado
Desejo que domina e não permite
Viver além do frágil, vão limite
Calando no meu peito, o sonho, o brado.

Pudesse ter aqui bem junto a mim,
O amor que tanto quero e não tem fim...







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O amor que tanto quero e não tem fim
Tomando o coração de um sonhador,
É como se cevasse a bela flor
Tornando mais sublime o meu jardim.

Mas quando a noite chega solitária
E tudo o que eu queria não consigo,
Percebo tão somente o desabrigo
E a vida se transforma. Temerária...

Não tendo mais sequer algum momento
Aonde possa ver a paz que quero,
O amor se torna então, terrível, fero
E traça a dor imensa, o desalento.

No sonho te imagino, em alvorada
“Sobre o leito de flores reclinada.”


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“Sobre o leito de flores reclinada”
Trazendo em teu olhar doces lembranças
Ao longe, no horizonte já te lanças
Vagando por distante e flórea estrada.

Percebo quanto és bela enquanto sonhas
Num átimo também sonho contigo
E tento vislumbrar suave abrigo
Nas sendas mais tranqüilas e risonhas.

A lua se declina sobre ti
E beija tua pele mansamente
E nesta maravilha se pressente
O amor que há tanto tempo; eu já perdi.

E ao vê-la enfim concebo desafios
Após tantos momentos mais sombrios.


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Após tantos momentos mais sombrios
Encontro o grande que tanto quis
E sendo por instantes, tão feliz
Refaço o meu caminho em tais estios

E teimo contra a força dos enganos
De tantos desafetos conhecidos,
Os dias em tempestas já vencidos
Agora me entregando aos novos planos

E tendo esta alegria de poder
Sentir o teu perfume junto ao meu
Quem tanto sem defesas já se deu
Começa neste instante então a crer

Na sorte pela angústia contrastada
“Como a lua por noite embalsamada.”


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“Como a lua por noite embalsamada.”
Encontro o meu olhar embevecido
E bebo a claridade, enternecido
Sabendo que depois vem a alvorada

E o sol que nos abrasa num segundo
Azulejando o céu outrora prata,
E a sorte benfazeja desacata
O medo do passado, vão profundo.

E assisto ao renovar de uma esperança
Após a imensidão de um tempo escuso
O amor que tanto quero, reproduzo
Trazendo ao caminheiro uma mudança

Deixando para trás sonhos vazios
Enfrento meus temores, desafios.


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Enfrento meus temores, desafios
E sei do quanto amor se faz capaz
Carinho que deveras satisfaz
Serena dias áridos, sombrios

Estando junto a ti eu me permito
Saber da farta luz que nos guiando
Tornara o meu caminho bem mais brando
E o tempo de viver bem mais bonito.

A deusa feita em pálida figura
Sonhando com momentos mais felizes,
Sanando dos meus medos cicatrizes
Trazendo para mim alento e cura

Descortinando o Paraíso então eu via:
“Entre as nuvens do amor ela dormia!”


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“Entre as nuvens do amor ela dormia”
E alçando raros céus em claridade,
Enquanto a fantasia assim me invade
Tornando bem mais belo o dia a dia,

Senti-la é como ter no firmamento
Um sol que se irradia em arrebol,
No olhar tão deslumbrante este farol
Por onde este caminho eu oriento

Não deixe que este amor termine, pois
Sem tê-la minha vida nada vale,
Não deixe que esta voz um dia cale,
Não haverá sequer nada depois

Mergulho neste encanto belo e infindo
Enquanto um novo tempo; em ti deslindo.



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Enquanto um novo tempo; em ti deslindo
Adentro os oceanos do meu sonho
E a cada temporal a paz proponho
Sabendo deste instante amável, lindo.

E quando me percebo em tuas mãos,
Teus braços me enlaçando com ternura,
Tomado tão somente por brandura
Os medos se tornando bem mais vãos.

Mergulho nos teus olhos, sinto em ti
O amor que tantas vezes procurava
Ainda sob uma onda forte, brava
A paz que eu necessito, descobri

E quando uma esperança se perdia:
“Era a virgem do mar na escuma fria.”

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“Era a virgem do mar na escuma fria”
Tocando mansamente a clara areia
No canto maviosos da sereia
Uma alma se entregando desafia

Os medos e temores de Odisseu
Traçando com seus sonhos novo cais,
Momentos que bem sei são magistrais
E neles todo amor me ensandeceu.

Vestígios do que fora no passado,
Somente solitário navegante
Agora ao perceber tal diamante
Também por ele sou iluminado.

Depois de tantos grandes desencantos
Vagando por tormentas, mares tantos.

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Vagando por tormentas, mares tantos
Encontro quem deveras eu queria,
Depois da noite amarga dura e fria,
Enfrentando temores e quebrantos

Decifro em meu caminho nova senda
E beijo tua boca em carmesim,
Aonde se fizera o meu jardim
A flor mais bela agora se desvenda.

E ao florescer permite que eu conceba
Supremas maravilhas, fabulosas
A mais perfeita rosa dentre rosas,
Deixando que seu cheiro se perceba

Assim como a sereia desejada
“Pela maré das águas embalada!”

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“Pela maré das águas embalada”
Trazida à branca areia feita em sonho,
Cenário tão fantástico eu componho
Depois da dura noite ultrapassada.

Traçando na alvorada um raro brilho,
Distante das tempestas mais ferozes,
Ouvindo dos prazeres suas vozes,
Na senda mais sublime agora trilho.

E vejo ser possível novo dia,
Aonde em poesia me desfaço,
Depois de tanta luta e do cansaço,
O coração em paz, enfim sorria.

Não quero mais seguir toscos caminhos
Distante de teus braços, teus carinhos.


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Distante de teus braços, teus carinhos
Não posso mais saber felicidade
E o medo do tormento que ora invade
Deixando os pensamentos mais sozinhos.

Audaciosamente busco então
Quem possa me trazer alento, pois
Sem nada no momento nem depois
A vida se perdendo em direção.

Nefastas ondas feitas desencantos
Atordoando assim, meu caminhar
Depois de tantas noites sem luar
As nuvens escorrendo turvos mantos

Pressinto maviosa esta chegada:
“Era um anjo entre nuvens d'alvorada.”

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“Era um anjo entre nuvens d'alvorada”
Trazendo enfim alento a quem sofria,
A vida se mostrara outrora fria
Agora poderia estar mudada.

Vencendo as minhas ânsias mergulhei
Nos braços desta deusa feita em luz,
Amor quando demais sempre conduz
À mais inglória e triste, dura grei.

Não pude perceber quando deveras
Finda-se o caminho benfazejo
E toda a solidão que ora prevejo
Transforma mansidões em cruéis feras

E ao ter em minha frente descaminhos
Perfaço os dias tristes e sozinhos.

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Perfaço os dias tristes e sozinhos
Amaldiçoada noite em que pensara
Ter minha vida agora mansa e clara
Envolto por amor em teus carinhos.

Depois o tempo trouxe a tempestade
E tudo desabando dentro em mim,
O amor foi devagar, chegando ao fim,
E a solidão terrível já me invade.

Pedindo então clemência, quero a paz.
E tudo o que vivera está desfeito,
A dor invade e assola então meu peito
E nem sequer o sonho satisfaz

Matando pouco a pouco a fantasia
“Que em sonhos se banhava e se esquecia!”


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“Que em sonhos se banhava e se esquecia”
Jamais imaginara ser plausível
Que o mundo de repente, imprevisível
Tornara a noite quente agora fria.

Medonhos pesadelos me açoitando
Aonde poderia ser feliz
Se a própria realidade me desdiz
E as esperanças fogem como um bando

E deixam tão somente esta tortura
Longe de ti não vejo mais o brilho
Da lua nem deveras quando trilho
Cansado de lutar, tanta procura

E assim se revelando noutros planos
A cada amanhecer, mais desenganos.


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A cada amanhecer, mais desenganos
Jamais eu poderia imaginar
Ausente dos meus olhos o luar,
Momentos de prazer agora danos.

Aguardo alguma luz que ainda venha
Mudar a realidade e nada vem,
A noite se repete e sem ninguém
Do Amor já não conheço nem a senha.

Cevara com ternura em solo agreste
Semente algum enfim ali brotara,
A vida que pensei tão mansa e clara
Diversa da verdade que me deste

A vida que pensara em dia brando
“Era mais bela! o seio palpitando...”


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“Era mais bela! o seio palpitando”
A divindade em vida que julgara
Ser minha em noite imensa bela e rara,
Porém o meu caminho desabando

Já não comporta mais felicidade
São tantos os enganos que carrego
Andando em senda amarga, sigo cego
Somente o medo teima, adentra, invade...

Não pude ser feliz. Ah quem me dera
Viesse alguma estrela e me trouxesse
O amor que se fazendo então a messe
Traria novamente a primavera

E o sonho que pensara no passado
Pudesse ter enfim concretizado


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Pudesse ter enfim concretizado
O sonho que deveras me tortura,
A vida não seria tão escura
O amor já não seria malfadado,

Percebo quão divino deve ser
Sentir uma presença que se espera,
Somente a solidão, cruel pantera
Tomando já de assalto o meu viver.

Não quero e nem consigo mais sentir
As ânsias de um amor mais que perfeito,
Porém qualquer carinho é meu direito
Ditando alguma luz no meu porvir

Ter de manhã num sonho quase infindo
“Negros olhos as pálpebras abrindo...”

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“Negros olhos as pálpebras abrindo”
Depois de noite em pleno temporal,
Momento na verdade triunfal
Ternura em ar mais manso e bem mais lindo.

Talvez seja possível crer no dia
Aonde isto se torne realidade,
Rompendo do silêncio algema e grade,
Uma alma feita em luz já se faria

Liberta e tendo os olhos no horizonte
Vagando por clarões, raro desejo,
O amor ensandecendo assim prevejo
Bem antes que este mundo desaponte...

Porém a dor cerceia em vão palpite
Desejo que domina e não permite


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Desejo que domina e não permite
Que a vida assim prossiga em plena paz
Do quanto amor se mostre mais capaz
Não respeitando então qualquer limite.

A sorte desairosa toma a sala
E quando se percebe mais tranqüila
A solidão deveras se perfila
Fazendo da esperança uma vassala.

Tempestas entre nuvens grises vejo
E sinto que talvez não haja mais
Além destes diversos temporais
A realização de algum desejo.

Apenas nos meus sonhos vislumbrando
“Formas nuas no leito resvalando...”


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“Formas nuas no leito resvalando”
Numa ânsia de prazeres incontida
Assim me prepara para a vida,
Sem perguntar sequer aonde ou quando.

O tempo desfiando este novelo
Não deixa mais espaço para o sonho,
E tudo o que eu pensara mais risonho
Medonho, como um triste pesadelo.

Vencido sem poder nem reagir,
Morrendo dia a dia percebendo
Distante do que fora um estupendo
Momento, tão vazio o meu porvir

Realidade atroz já não permite
Viver além do frágil, vão limite

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Viver além do frágil, vão limite
Já não consigo mais pensar em nada
Uma alma que se sente desprezada
Jamais aceita alguém que delimite

O sonho que é talvez o que me reste,
E tudo se perdendo, menos ele,
Por mais que novo tempo se revele,
O solo permanece assim agreste.

Vieste então em forma de ternura
Trazendo em teu olhar uma esperança
O meu amor agora a ti se lança
Depois de tantos anos de procura,

Por isso meu olhar tolo se abrindo
“Não te rias de mim, meu anjo lindo!”

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“Não te rias de mim, meu anjo lindo”
A vida jamais fora justa e enfim
Agora que floresce em meu jardim
A rosa mais bonita já deslindo

Um dia mais tranqüilo, até quem sabe
Podendo então dizer que sou feliz,
A sorte muitas vezes contradiz
E o tempo já não serve nem me cabe.

Vencido pela angústia do não ser,
Terríveis noites feitas solidão,
E tendo de repente enfim meu chão,
Mergulho sem defesas no prazer.

Depois de tanta dor no meu passado
Calando no meu peito, o sonho, o brado.

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Calando no meu peito, o sonho, o brado
Não pude perceber quanta beleza
Trazida pela própria natureza
Mudando com certeza o velho fado.

Estrelas desabando sobre nós
Traçando com seus brilhos poesias,
Além de qualquer dor, temor, me guias
Matando o sofrimento vil algoz.

Serenas minha vida com sorriso,
E tendo cada passo assim descrito,
Jamais me percebendo mais aflito,
Adentro devagar o Paraíso.

Bem antes de viver tal sonho brando
“Por ti - as noites eu velei chorando.”

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“Por ti - as noites eu velei chorando”
E agora que percebo, estás comigo,
Entendo como ausente o desabrigo
E o tempo pouco a pouco transformando.

Vivera solitário caminheiro,
Buscando qualquer porto que abrigasse
Depois de tanto medo, dor e impasse,
Agora me entregando por inteiro.

Sabendo desde já o que mais quero
Ninguém pode conter meu canto em paz,
Amor quando em amor se satisfaz
O mundo se tornando mais sincero,

É como se o mais belo querubim
Pudesse ter aqui bem junto a mim.


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Pudesse ter aqui bem junto a mim
O amor que tantas vezes me guiara
A vida cicatriza a velha escara
E o mundo encontra a paz, até que enfim.

Vencido pelos medos do passado,
Há tanto desejara algum momento
Aonde se pudesse ter no alento
Divino pensamento abençoado.

E tendo esta certeza que me trazes
Não posso me calar, sigo contente,
A vida noutra vida se pressente
E assim pressentimentos são audazes

E vejo num instante claro e lindo
“Por ti nos sonhos morrerei sorrindo -!”

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“Por ti nos sonhos morrerei sorrindo ”
E tendo tal certeza poderei
Seguir sem ter tormentas nesta grei,
Sabendo do final em flor se abrindo.

Mesquinhas noites frias do passado,
Insanas e terríveis tempestades,
Enquanto com carinho tu me invades,
Deixando o coração apaixonado

Jamais se permitindo outra ilusão
Tampouco o sofrimento me tomando,
Viver este momento imenso e brando
Certeza das belezas que virão.

Floresce em maravilha no jardim
O amor que tanto quero e não tem fim..
MARCOS LOURES
 
Autor
MARCOSLOURES
 
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Enviado por Tópico
João Marino Delize
Publicado: 16/03/2010 18:47  Atualizado: 16/03/2010 18:47
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 Re: ESPIRAL DE SONETOS - HOMENAGEANDO ALVARES DE AZEVEDO
Escrever 28 sonetos sobre um soneto é sempre admirável e de muita competência. Mas acho que se você escrevesse um soneto em cada página, mesmo que fosse inspirado em outros sonetos se promoveria muito mais. Mesmo assim acho muito difícil escrever tantos sonetos sobre um e só quem sabe e sabe muito pode fazê-lo.

abraços