Funchal, 5 de Outubro de 2010
Querido diário,
Não consigo explicar na loucura em que este dia se tornou. Esta semana. Onde as miragens nocturnas apareceram em força. Estes sonhos indecididos agora tão concretos. Acordava com o raiar do Sol não mais essencial nas minhas manhãs. A opressão que pesava mais de cem quilos em cada ventrículo do meu inócuo coração.
Oh, e este desejo inflamável desidratou as minhas veias sequiosas apenas por aquele esguio semblante que roubou cada pedacinho do meu descanso. Aquelas cantigas, que capturavam os tímpanos para todo o sempre, excruciaram-me dia e noite. Cada segundo, cada minuto desta vida ingerida. A toda a hora.
Este amor que entregou-me gratuitamente a uma besta sem rosto.
Ontem, as minhas mãos tremiam vezes sem conta fazendo com que o raio da tecla S do portátil dançasse de um lado para o outro. Os meus lábios trancaram-se para não invocar os seus sublimes cantos. O suspeito nome.
Contudo, os versos saíram, um a um, quando as hiperligações abriram-se umas trás das outras.
E cantei a serenata que ele tanto me declarava:
Oh! Vinde até mim!
Sois senhora das minhas chamas
Do meu condenado trono
Onde a vossa luz iluminará estas errantes almas
Encontrai-me, minha senhora
Vinde até mim, meu amor.
Tapei vezes sem conta a boca com a palma da mão, sem efeito.
As dúvidas abandonaram o meu ser e apenas me resta este malévolo amor que assombrar-me-á para todo o sempre.
Por isso, esta será a última entrada no meu diário. Fiz-me prisioneira das trevas cruéis do meu amado. As chaves, atirei-as para lá dos mais profundos oceanos onde sei, que nunca posso, nem quero encontrar.
Agora, deixar-me-ei descansar na poeira interestelar do infinito. Nas brumas do caminho para a escuridão. O meu novo Universo. Onde ele será o meu âmago. O meu Satanás.
Venho aqui, para me avaliar. Descobrir este talento que tanto cobiço.