Contos -> Tristeza : 

Naquela Noite...

 
Rosy era uma miúda simpática, bem humorada e sobretudo amiga dos seus amigos.
Nessa noite havia saído em grupo como era seu costume ,e foram até um barzito.
As aulas só recomeçariam no dia seguinte á tarde, logo teria tempo de descansar até lá.
A noite estava serena , uma brisa suave e um luar acolhedor.
Pouco passava das 23 quando um amigo de Rosy se lembrou que poderiam ir até uma discoteca.
Rosy não era muito amiga das discotecas, mas acedia quase sempre, pois a companhia era agradável e o seu grupo de amigos bastante simpático.
Quase como que por impulso, Rosy mudou de humor sem se aperceber lá muito bem porquê.
Num ápice sentiu algo estranho em si.
Uma sensação gelada invadiu-lhe o corpo.
A sua amiga Marta apercebeu-se , e abraçou-a.
Marta sabia muito bem a fase que Rosy atravessava naquele momento.Apressou-se a dizer:
-Amiga vá...anda daí.
Rosy não queria de forma alguma estragar a noite, mas parecia já o ter feito.
Tinha completado os seus 18anos há uns meses atrás, mas ainda se sentia uma menina mimada.
Mas não eram mimos, era mesmo uma sensação fria , gelada...
Lembrou-se de uma solução rápida e , recorreu a uma mentirinha , que a não era de todo:
-Meus queridos Amigos , estou com uma enxaqueca fenomenál ,portanto lamento mesmo, mas não posso ir com vocês até ao Lido
Se corria uma brisa suave pela noite... passou a sentir-se um gelo momentãneo,pois todos expressaram uns"Oh's" que se fizeram ecoar, em alto e bom tom.
Dito isto despediu-se e voltou para casa só, pois não queria privar nenhum dos seus Amigos ...e fazer de algum deles seu "táxista"
Afnal era ela que estava mal disposta, e o cúmulo... é que não sabia ... o porquê!!!
A paragem de táxis era mesmo ali ao lado, e Rosy havia entrado no primeiro da fila.
Durante a viagem , longa ainda, observava da janela deste, as ruas desertas, a escuridão infinita,dessas mesmas ruas mal iluminadas e olhava o céu...
Á sua memória , veio a lembrança que a sua Mãe não gostava que ela contasse Estrelas:
-Mi , não faças isso minha querida!!!
Lembrou-se de lhe ter perguntado porquê, e a sua Mãe em tom de brincadeira , mas que parecia falar sério, responder:
-Para quê andares a contar as Estrelas?!...São tantas mas tantas, e tu a apontares...ainda te vão nascer cravos não mãos!
Rosy sorriu e disse a sua Mãe:
-Não faz mal...arranjamos uma jarra e colocamos todos os cravos que me nascerem lá dentro.
Sua Mãe abraçou Rosy,com muito carinho e sorriu-lhe como só ela sabia sorrir.
-Menina...
Rosy deu um salto!
Era o condutor do táxi que a chamava.
Haviam chegado e ela nem se havia apercebido.
Rosy pagou, agradeceu e saiu.
Ao longe pôde ver ainda o táxista afastar-se, pois este tinha esperado que Rosy entrasse na sua residência.
A sua residência nesse momento, era um quarto de hotel, bem na baixa Lisboeta.
Era um quarto simpático, muito colorido e , sobretudo ficava num último andar...mais perto do cèu.
Rosy passava horas a olhar para ele, tanto que sua Mãe lhe dizia que um dia ganharia asas e voaria...Ambas sorriam, pois Rosy apenas gostava de admirar as estrelas, a sua luminosidade,o seu resplendor cintilante.
Conseguia assim uma paz interior, que nem mesmo ela sabia explicar.Certo é que se sentia bem ...
Tão embrenhada estava nos seus pensamentos , que mais uma vez não se apercebeu que o elevador tinha chegado ao piso onde ela deveria sair...
-Upssssss... já cheguei...
Caminhou uns metros e meteu a chave á porta...
O seu companheiro fiel ...Fofinho veio espera-la.
Era uma miniatura de gato que ela fazia questão de ter consigo.Fofinho foi "achado" na rua abandonado, quase recém nascido.
Abandonado , talvez não pela sua mãe, quem sabe por alguém... (chegou Rosy a pensar )...a ver se ela se compadecia dele...
Certo é que resultou.
Rosy pegou naquela miniatura de gatinho, colocou-o a jeito dentro do bolso do seu casaco, sim, pois ele era tão , mas tão pequenino...
e assim Rosy ganhou um novo amiguinho, e o novo amiguinho ganhou o carinho e a ternura de Rosy, para além de ter adquirido um tecto.
Olhou-o ternamente...a saltitar, como que se lhe dissesse que estava feliz com a sua chegada, fazendo rolar a sua bola preferida...a bola verde com a qual Rosy o havia presenteado...Ronronava encostando-se ás pernas dela.
Rosy pegou-o ao colo, mimou-o,ele retribuia , recostando-se e ronronando ainda mais , com um arzito de quem estava feliz.
Mas...nem o seu amiguinho felino conseguiu aliviar o semblante pesado que carregava consigo, embora este se tenha dobrado em mimos e paparicos para ela.
Foi até á janela... sentou-se no parapeito desta e... lá voltou a olhar para o céu.
O sono não chegava ...e a lua ja ia alta.
As zero horas do sino da igreja já se haviam ouvido há muito,e Rosy continuava ali...sentada a observar...mirava as antenas dos televisores espalhadas pela imensidão de telhados,cobertos com telhas das mais variadas formas e cores,que de noite, pareciam todos pintados da mesma, para não falar das que estavam mais longe, e não se avistavam dali.
Sim , era uma boa vista tendo em conta que não se limitava a abrir a janela e dar de caras com o predio frontal,ou com as cortinas rendadas da vizinha ao lado, ou até mesmo com aquele simpático casalinho, que teimava em dormir de janela escancarada.
A noite foi passando...a lua começava a esconder-se para dar lugar aos primeiros raios de sol...
Por sua vez Rosy continuava sentada ... não lhe apetecia sair dali...
-Trimmm
Rosy deu um salto...assustou-se...mas... era só e apenas o telefone.
De um só pulo , saiu do beiral, dirigiu-se onde estava o dito.
-Sim , Bom dia
-Bom dia menina Rosy, tem uma chamada posso passar?
Nem se lembrou de perguntar quem era, talvez o sono, ou talvez nem tivesse grande importãncia , pois só amigos e familiares lhe ligavam para o hotel...logo algum deles seria.
-Sim , sim ...pode passar ...Obrigada, e ,bom dia.
Esperou uns minutos, talvez nem tanto...
Do outro lado ouviu uma voz conhecida...voz que ela conhecia tão, mas tão bem...
O sangue gelou...o coração disparou na ansiedade...
Estremeceu...ainda a tempo de ouvir:
-Mana...recebi agora mesmo um telegrama...a mais Bela Estrela do mundo ... ontem por volta das 23.15...
subiu aos céus ...

 
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Um Momento
 
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