Lembro-me dos teus olhos cor de mar, (dizias que era por viveres perto do oceano) do teu sorriso aberto, mas lembro-me principalmente do teu olhar, aquele onde escondias todos os sonhos do teu mundo.
E o mundo era o teu grande sonho!
Falavas dele como se o conhecesses, mas nunca tinhas saído da vila onde morávamos, mas os jornais mostravam uma realidade que tu querias fosse a tua…
E de olhar perdido no horizonte, falavas-me que um dia serias um grande jornalista, um contador de estórias, um escritor de sonhos…
No fundo eu sabia que um dia te perderia para uma qualquer página de um daqueles jornais que tão avidamente sorvias com o olhar…
Aquele olhar de menino rebelde que eu tanto amava.
Ainda sinto o calor dos teus lábios a limpar-me as lágrimas depois de um qualquer desgosto adolescente, e prometias-me o mundo…
Mas a vida encarregou-se de matar todas as promessas.
E um dia… partiste!
Levaste a mochila cheia de sonhos e deixaste um coração vazio de promessas!
Penso sempre em ti, onde estarás agora… quantos olhares já cativaste com o teu sorriso!
A nossa árvore ainda existe, o velho carvalho que nos acolhia ao fim da tarde ainda guarda as nossas iniciais que tu esculpiste como símbolo do nosso amor, as letras estão desgastadas pelo tempo, tal como eu…
Ainda passo por lá de vez em quando na esperança de te encontrar um dia…
Imagino se ainda te lembrarás de mim… Se tal como eu sentes saudade de tudo o que o velho carvalho representava para nós…
Leio cada reportagem tua, na expectativa de me encontrar nas entrelinhas…
Procuro a tua saudade a cada palavra que escreves… Mas só falas em guerra, fome, catástrofes e morte…
Suponho que ainda terás os olhos cor do mar, embora vivas longe do oceano, e que o teu sorriso ainda fará palpitar corações…
Hoje olho-te à distância de um passado que o tempo teima em não deixar esquecer…
Ariane