O sol de todo dia nos desperta
esperando renascer a nossa alma
E os sonhos de uma vida enclausurada
vem a tona com clareza descoberta.
Lembra das manhãs de primavera?
A pitanga, o içá e a macaúba?
Quantas vezes a boca tão grudada
do abiu que atraía a criançada !
Passado muito longe já esquecido
ou saudade muito grande que sufoca?
Eu tinha um rio caudaloso na minh'alma,
onde uma canoa com meu nome navegava.
Rodar dourado em silenciosas madrugadas
e meu pai a me ensinar como fisgava...
Gente do campo desfilava lá em casa
uma cachaça, muita piquira, conversa fiada.
Doce de abóbora, laranja azeda, a mulherada
pegando o ponto do doce de goiaba.
De noite a usina e o jardimiluminado
assistiam ao canto ingenuo das serestas
- serão maneiro, som caipira, e a criançada
de amarelinha e roda se enfastiava...
Trocar apito por maca ou figurinha,
bolas de gude, pega pega e papagaio
Não tinha Xuxa, video game, enlatados.
Quando chovia, a gente ía na enxurrada.
Sem recreio de concreto armado, não tinha muros e janelas gradeadas
Primeiro lugar era legal, nao necessario
Respeito havia! Senao - Diretoria!
Doce terra cor de anil da minha infancia
Onde achar uma varinha de condao?
Quero crianças livres soltas pelo campo
como eu na mente e coracao!
Qual Sete Quedas que retorna assombrada,
Qual Peter Pan, Caipora, Yara
Assombrações iluminem a Cachoeira,
com sol e lua, compreensão e madrugadas!
PS: Mesmo que eu nao tenha visto nenhuma Ema.
E proprio da condicao humana buscar ecos
Este poema foi publicado na Revista regional Open News, Campinas, semana 2, out. 1993, titulo: Criancas, esta terra tem palmeiras - A Sabedoria das Coisas Simples.
Homenagem a Cachoeira de Emas - Pirassununga - SP - Brazil.
Lima, Noeliza