O que a chuva traz?
Por que esse céu,
pra que essa tristeza
que vem do nevoeiro do mar?
A água é a mesma,
a baía não mudou,
os homens entreolham-se ansiosos,
a barca opera com dificuldades.
Andar não pode o vagante passageiro
Esguichos d´água por toda parte
Fazem-no mudar, girar, feito marujo
ziguezaguear, tonto depois no calçadão
Não seria melhor ficar no mar?
Seria apenas um olhar apático
no horizonte aquático
perdido em meio a imagens longínquas.
O que encontrar em um dia assim?
Mal diviso o farol da Ilha Fiscal,
mal distingo o que é a vida,
seria preciso um dia assim pra escrever?
Nada mudou no meu tom melancólico,
nada de novo, apenas a volta a Niterói
não há tristeza, tampouco alegria,
não há rancor, ódio muito menos.
Estático na barca lotada, nem sei quem gira
não sei se é brisa ou calafrio que sinto no rosto
sou apenas mais um anônimo
rumo a Niterói, como outros tantos...
AjAraújo, o poeta humanista, poema escrito em junho de 1976.