Desde que te foste, não mais parou de chover... O próprio mundo chora, partilha o meu sofrer... Todos os dias me pergunto, algo que não sei responder... Como posso ter a ousadia, de sem ti continuar a viver?!... Caminho de cabeça caída; assim está o meu espírito... Ergo-a apenas para o céu, na esperança de ver o teu... A minha dor é tanta; perdi-te e estou perdido... Se alguém tinha que ir, porquê tu e não eu?!... Só me acho em sonhos, pois aí também te encontro... Acordar é o meu pesadelo; viver, o meu tormento... Tornei-me um farrapo humano, tamanha é a amargura... Porque Deus deixou uma alma imunda e levou uma pura?!... Às vezes dou comigo, jogado num canto qualquer... Com o álcool como amigo, uma garrafa como mulher... Todos passam por mim, olham mas sem me ver... Pouco importa também, o que quero é me esconder... Por momentos no meio deles, parece que te vislumbro... Corro no teu encalço, grito mas não me ouves... Entro novamente no vazio e deixo-me ir ao fundo... Meu Deus, chamo tanto por ti, porquê nunca respondes?!... Desespero com o desespero, enquanto espero pela minha hora... Gostava tanto que me viesses buscar, que me levasses daqui para fora!... Já paguei os meus pecados, entrego-me sem mais demora... Mas Deus quer-me a fazer companhia, à restante gente que chora... Egoisticamente que seja, dos outros quero lá saber... Só a ti queria aqui, os outros bem podiam morrer... Por favor volta, não aguento mais esta solidão... Por uma vez mais que fosse, gostava de sentir a tua mão... Encostar a cara ao teu peito, ouvir teu coração... Dormir junto contigo, embalados pela nossa canção... Mas sei que tal não é possível, que estupidez a minha... Teimo em viver no passado, encarcerado nas lembranças... Mas o caminho que percorres agora, não queria que o fizesses sozinha... Não me importo de te ter, mesmo que em falsas esperanças... Assim faço do passado o meu efémero presente... Sei que estou desgastado, cada vez mais demente... Mas não me censurem, em paz deixem-me somente... Pois cá no meu mundo, vou sobrivendo contente... Aqui tudo são fantasmas, espectros errantes... Almas penadas, espíritos deambulantes... Mas a paz é total, acabaram-se os sofrimentos constantes... E para todo o sempre, eu e ela continuaremos a ser amantes...<br />