Se uma migalha é o que sobra, então estou repleto de migalhas. Umas maiores, outras menores…mas todas retratam o fim; o que sobrou de alguma coisa…de algum momento, de alguma verdade, de alguma circunstância ou até mesmo de alguma meta frutífera ou infrutífera.
Sinto-me como uma migalha que vagueia na toalha que há-de ser sacudida. Sinto-me uma migalha longe e distante, onde os rituais deram lugar aos hábitos e onde os sentimentos se transformaram em meras mensagens cujo conteúdo só difere na interpretação que cada um de nós lhe tenta dar.
Sou uma migalha…mas com cheiro e sabor. Cheiro a nostalgia, a esperança, a crença, a desejo e, a par de tudo isto, conduz-me o sabor; aquele paladar que começa a saber a fel pelo facto da ausência psicológica ser, por vezes, tão ou mais violenta que a física.
Como em qualquer conto de príncipes e princesas, também queria ser um herói guerreiro capaz de ultrapassar todos os obstáculos e transformar as utopias dos sonhos em realidades presentes. Tento-me adaptar a cada momento, a cada passo, a cada etapa…mas não consigo nem quero adaptar-me por completo. Tenho medo de perder o meu eu e, ao mesmo tempo, de entrar num horizonte ameno e pálido, onde o meu querer se transformará em abstinência.
Se sou novo, se sou pouco crente ou se o meu Deus não me ensinou os ideias que o teu pregoa…não sei. Também não me importa. Só sei que às vezes tenho vontade de abrir aquele baú das memórias esquecidas que guardo no meu coração, porém, temo cada pensamento que me assola sobre este assunto. Explico-te o motivo: tenho medo de encontrar o vazio, o nada, o desperdício. Procuro as cartas, os poemas, as flores secas, os bilhetes sorrateiros, as fotos assinadas e até talvez algumas migalhas, porém, sei que apenas encontrarei a aventura e a nossa luta. Já é muito…concordo contigo…mas nem imaginas o quão importante são as pequenas migalhas para mim! Aquelas que sacudimos todos os dias ou que simplesmente deixamos para amanhã pelo facto de hoje dar muito trabalho e não haver pachorra para isso!
Cada um dos meus gestos é uma migalha de afecto, ternura e preocupação. Ainda assim, sei que para ti as migalhas são pormenores de indiferença alheios a qualquer crescimento sentimental!