Contos : 

PRESENTES TRANSCENDENTAIS

 


Dona Carola foi criada no interior da Bahia, os olhos severos dos pais não permitiam deslizes. Assim, como a maioria das moças da época, casou-se cedo, antes mesmo de completar quinze anos.

Lá por aquelas bandas, as festas de casamento eram mesmo muito simples, praticamente não existiam, o pai da moça seguia o casal até o cartório e ali mesmo sacramentavam o fato. Às vezes, um jantar entre os pais da moça e do noivo, muitas vezes nem isso existia a moça seguia logo no amanhecer rumo à sua nova vida.

A mãe de Dona Carola sentia algo estranho em sua filha, desde pequena ela se mostrava por demais interessada pelas histórias dos seus avós e bisavós. Fazia perguntas sobre os parentes mortos, com quem se casaram como eram e se existia alguma fotografia de algum deles.

A mãe da então menina (Carola), não costumava dar importância as indagações da filha, entretanto, vez e outra contava alguma coisa. Contou para a filha que sua Bisavó havia morrido cedo, que foi casada com um capitão de navio e que por conta da guerra, o bisavô da menina, havia permitido que os marinheiros numa madrugada fossem visitar os parentes e como alguns deles demoraram em retornar, o navio ficou encalhado na maré baixa, decidindo então seu bisavô, partir sem todos os marinheiros a bordo, pois logo amanheceria. Contou que seu bisavô forçou tanto as caldeiras do navio, que elas explodiram, aonde ele veio a falecer. Faleceu sem mesmo saber que sua mulher (A bisavó de Carola), se encontrava grávida.

Contou que sua bisavó, deu a luz a uma menina que ao crescer casou-se e fora mãe de seis filhos, um desses filhos era a mãe dela (avó de Carola). Mostrou para ela nessa ocasião um retrato amarelado, que foi tirado no dia do casamento de sua bisavó. O bisavô antes de lavar sua bisavó para casa, havia passado na cidade onde morava com seus pais e fez o retrato da então esposa.

Os pais do bisavô, eram pessoas bem de vida, possuíam uma casa boa na cidade. A mãe do noivo, disse que a moça por ser muito jovem deveria morar junto do marido na mesma casa com os seus pais. Foi na cristaleira tirou uma sopeira de porcelana inglesa linda e disse: Esse é seu presente de casamento. Quando o rapaz (Bisavô) morreu lá no navio, a moça ficara morando na mesma casa e por lá, criou e casou sua única filha (Avó de Carola), oferecendo para ela o presente que ganhou de sua sogra. (A sopeira).

Carola embora muito jovem, ouvia atenciosamente cada palavra que sua mãe lhe dizia, aquilo tudo parecia um filme, via em sua mente tudo acontecendo. Por sua vez a avó, casou-se também cedo e deu a luz a seis filhos, duas mulheres e quatro homens, uma das mulheres era a própria mãe de Carola e a outra sua tia Joana que morrera solteira. Mas, que nem sabe bem por que foi para essa tia, que sua mãe (avó de Carola), havia pedido que guardasse a tal sopeira.

Anos, muitos anos depois, com as irmãs já bem maduras, a tia vai à casa da mãe de Corola e diz: “Mamãe pediu que eu guardasse a sopeira, mas, é você que deve fazer isso de agora por diante.” Sem entender nada, a mãe de Carola passou a guardar a sopeira.

Meses depois de casar-se Corola se encontra grávida e foi a partir daí, que tudo começou. Dias antes do nascimento do seu filho, Corola sentada em baixo da mangueira pra descansar, percebeu por entre as folhagens, uma luz intensa, que não soube identificar nem explicar. A luz era tão forte que assustada, resolveu entrar para sua casa. Dois dias depois nasce o seu primeiro filho.

Carola novamente se espanta, vê no rosto do seu filho, exatamente o rosto que viu naquela fotografia amarelada de quando ainda era criança (Sua Bisavó). Fica no quarto sem poder dizer nada e aquele rosto jovem e pálido de sua bisavó, vai desaparecendo para dar lugar ao rosto de bebê do seu filho. Apesar de muito estranho, Carola não comentou isso com ninguém.

Carola teve mais dois filhos, cresceram, casaram. Vinte anos depois, em visita a sua mãe já bastante idosa, Carola conta para ela toda aquela estória esquisita. Sua mãe arregala os olhos a princípio como estivesse entendendo tudo e se dirige para um baú por de perto da cama, pede à filha que ajude a abri-lo, segura a tal sopeira de porcelana entrega para filha com um único pedido. Você deve entregar a sopeira para o Jorge, seu filho mais velho, por que ele sem dúvida é a reencarnação de Georgina, sua bisavó e a quem de fato a sopeira pertence.





 
Autor
PCoelho
Autor
 
Texto
Data
Leituras
1050
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
1 pontos
1
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Conceição Bernardino
Publicado: 25/02/2010 23:04  Atualizado: 25/02/2010 23:04
Usuário desde: 22/08/2009
Localidade: Porto
Mensagens: 3357
 Re: PRESENTES TRANSCENDENTAIS
gostei de ler

beijo