Vagarosa tarde,
quase noite,
porque vieste agora
acordar os meus olhos
vazios
para a luz preguiçosa?
Diabólica noite
de passos segredados,
que trazes, à solta,
nos cabelos de sombras
ou nos pingos inquietos
dum beiral incómodo?
Impiedosa invasora
das frinchas das casas
sem vivalma,
porque devassas a minha pele
tisnada do sol que foi?
Derradeira esquina,
que tropeças na avenida larga,
onde os candeeiros jorram
o caudaloso frenesim da luz,
que palavras ficaram
da correria indigesta dos dias?
Vagarosa tarde...
Deixa que levante ferro
deste pranto de palavras
alinhadas
e vá ao encontro do longe,
do nunca,
do jamais,
qual papagaio de papel
que o azul sugou,
como se fora ladrão
do espanto
e da loucura!
Deixa que me erga
suspenso e irreconhecível
na corrente
e expluda feliz
e sem cerimónia
uma chuva de risos,
como estrelas cadentes
ou flocos diminutos de neve.
Deixa! Deixa que morra
para renascer em cada dia
no sol pequenino
de ser teimosamente
poeta!
Em 23.Nov.2009,pelas 20h30
Paulo César