um dia tinha morrido sem me aperceber.acordei do lado de fora da janela com uma trepadeira em volta da cintura que ainda sentia como minha.só quando tentei abrir os olhos para me ver ,e ao que me rodeava, é que percebi que não mais os tinha.nem os olhos nem a cintura. era um tronco de uma árvore agora.de um grande carvalho,assim o senti.pude percebê-lo, porque ouvi um pássaro retornando ao ninho que nascia nos meus braços abertos .
podia entender a linguagem dos ventos agora.e mal uma brisa me balançou ao de leve,ousei perguntar-lhe.queria saber.queria saber porque tinha morrido tão cedo.ela disse-me que alguém me havia tentado salvar desesperadamente. por isso me matou ,com amor.não percebi.e triste deixei cair umas tantas folhas quebradas,amarelecidas pelo tempo.
veio a chuva que me regou,acompanhando as minhas lágrimas que eram de resina agora.perguntei-lhe.tinha de saber.tinha de saber porque me mataram,quando ,afinal,me queriam salvar.a chuva miúdinha,para não me magoar, confidenciou-me com ternura ,que não foi por mal.apenas uma cura tentada para uma doença fatal.o tratamento não havia dado resultado.foi o remédio que me matou.
veio a primavera.e os primeiros raios de sol fizeram-me cócegas nas folha verdes,tentando animar-me.voltei a ousar perguntar.queria saber quem.quem me tinha matado.quem me tinha dado a tomar o remédio mortal,por me amar tanto.o sol fez então iluminar cada botão de flor da trepadeira que me abraçava silenciosamente e sorrateiro,fugiu.
cruz mendes