(Ano 2008, Painel em caneta de prata e ouro e cristais sobre tela acrílica preta, 120x120 cm)
Queria falar-te do que sou e dar-te a beber o néctar de puro âmbar que existe na minha pele. Por dentro de mim já se instalaram os vermes dos frios planaltos que ardem em mim por detrás da tundra amena que, húmida, alimenta a humidade dos meus lábios. Queria dizer-te que moro no amor das folhas que pisas nos prados castanhos naquelas noites de Outono que povoam as almas frias dos que vivem sem saber. Queria ser teu facho luminoso nas tochas dos cristais feitos pedra do teu mais intimo palácio celestial. Serão meus olhos cristais, repletos de imensidões de cores, que mato em mim para que a morte se reduza ao negro e o amor possa brilhar na luz do sol? Serão minhas entranhas como conchas impenetráveis às sondas imaginárias com que percorres a linha indefinível do corpo que, morto, já foi meu? Nas ilhas de fogo e sal com que competi com Deus por um lugar onde viver, sem saber que o fim da minha vida seria nas montanhas geladas do teu olhar, descobri que o que foi vida um dia morrerá e será desfeito em pó que alimenta as rosas e fertiliza os campos que outrora usamos para selar o nosso amor.
(Poema XV Sombras de Luz do livro “Por Detrás das Lápides” de Joma Sipe)