No olhar seco de um homem que vejo,
Há o pó e há a poeira do sertão
Entre os mandacarus, segue este sertanejo,
Desviando-se das ossadas que restarão no chão...
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É uma natureza morta, numa imagem fria,
Onde há um calor que ao homem consome
Das rachaduras do chão, verte a agonia,
Ao ver o gado morrendo de fome...
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Pois no leito do rio, corre apenas o vento,
Imitando a água, formando uma ilusão
Mas este homem, ainda aguarda o momento,
De ver a chuva, brotando sua semente do chão...
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A seca é uma imagem que assombra,
Não há vida, nenhum verde na plantação,
Não há uma árvore, com uma frondosa sombra,
Para esfriar a cabeça, e conformar o coração...
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Mas há no sertanejo o lamento, há a oração,
Ao seguir em romaria, entre preces e pedidos,
Suplicando por um milagre, ao santo de devoção,
Para recuperar um pouco do que já fora perdido...
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E roga pela chuva, tão bendita e abençoada
Devolvendo a vida, sublinhando a vereda,
Flores nas variantes, a água do rio tão sagrada,
Matando a sede de uma alma aeda...
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Fazendo o que estava morto, reviver,
Como um beijo de vida, numa feliz ressurreição.
Ofertando um pouco, há quem não pode ter,
O fruto da terra, na milagrosa salvação...
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Pois no suor que corre de sua fronte,
Escorre a esperança salgada e taxativa
Ao ver nuvens se fechando no horizonte,
Uma esperança nos olhos, de uma imagem viva...