Caminho por entre um campo minado,
Entrincheirando-me entre as explosões,
Bem no meio de um fogo cruzado,
Observando os bombardeios dos aviões...
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Vejo prédios queimando, outros tombando,
E blindados desfilando nas ruas
Há pessoas mortas, outras chorando,
E balas penetrando em carnes cruas...
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Perdi minha identidade para o medo,
Mas isso não é segredo, pois não sei fingir
E ele, não me abandonará tão cedo,
Mas esta guerra, também me ensinou a mentir...
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Pois luto com um inimigo que não é meu,
Não sei quem ele é, eu não o conheço
Por isso perdi minha fé, transformei-me num ateu,
Não acredito em Deus, e isso não é um bom começo...
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Meu amigo tombou ao meu lado, ele não voltará,
E as flores não estão de luto por sua memória
Pergunto-me, a próxima vítima quem será?
Abatido por uma bala, em sua trajetória...
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Vejo que a torre da catedral permanece em pé,
Porém só sobraram escombros onde antes era o altar
Talvez alguns soldados, seduzidos por sua fé,
Resolveram que a torre e sua cruz deveriam poupar...
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E é de lá que se ouve uma melodia em rancor,
Como uma ópera, da guerra que não venci,
É uma canção, numa voz carregada de dor,
Numa emoção, que mal cabe dentro de si...
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Deveras, ele é um autocida como eu,
Ao ver o lugar de seu batismo desmoronado
Ou talvez com as imagens quebradas se comoveu,
Ou quem sabe como eu, sente-se um derrotado...
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Pois por todos os lados, há corpos dilacerados,
Há vidas que partiram tão bruscamente
Sinto-me como se eu fora pelo diabo enviado,
Para arrancar a flor pela raiz, e matar a semente...
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Mas a guerra não é minha, o inimigo não é meu,
Mas o senhor da guerra, com isso sê satisfaz
E me manda para o front, pois o assassino sou eu,
Fazendo-me lutar por um falso epíteto de paz...