Enviado por | Tópico |
---|---|
Alexis | Publicado: 22/02/2010 23:12 Atualizado: 22/02/2010 23:35 |
Colaborador
Usuário desde: 29/10/2008
Localidade: guimarães
Mensagens: 7238
|
Re: 104 para mar
muito bonito o resultado desta intertextualidade entre o que de ti conheço em termos de escrita, mar e o que conheço do al berto.dor com dor,nas suas nuances.gosto de te seguir nestes diálogos literários.
um grande abraço alex |
Enviado por | Tópico |
---|---|
arfemo | Publicado: 22/02/2010 23:31 Atualizado: 22/02/2010 23:31 |
Colaborador
Usuário desde: 19/04/2009
Localidade:
Mensagens: 4812
|
Re: 104
conheci o Al Berto ainda ele não o era, mas já escrevia como se o fora. acompanhei a sua dolorosa ascensão, mas de caminhos paralelos poucos contactos mantivemos nos seus últimos anos de vida. e se ele escrevia bem, fosse em que registo fosse. fez bem em se lembrar dele, escrevendo de forma que o merece...
beijo arfemo |
Enviado por | Tópico |
---|---|
Margarete | Publicado: 24/03/2010 23:39 Atualizado: 24/03/2010 23:39 |
Colaborador
Usuário desde: 10/02/2007
Localidade: braga.
Mensagens: 1199
|
carta de emile de al berto
a minha cidade tinha um rio
donde sobe hoje o cheiro a corações de lodo e um eflúvio de enxofre e de moscas cercando as cabeças dos vivos as pontes as que vi ruírem nas imagens dos jornais continuam de pé algures na memória mas não podíamos sair dali ir falar ou trocar fosse o que fosse - ou resistir - porque não tínhamos nada para trocar excepto a fome e a vontade inabalável de viver nem pão nem balas nem esperança - e cada um de nós metamorfoseou-se num cemitério ambulante - cada um de nós sepultou na alma uma quantidade desumana de dor e de mortos tudo se decompõe apodrece e as mãos enterram-se no estrume das horas - assim te escrevo sentado na parte mais triste do meu corpo noite dentro a boca a encher-se-me de ossos - até que irrompa a manhã e os tiros recomecem e a cinza do cigarro caia no chão e em mim cresça uma alegria maligna Al Berto Vigílias Assírio & Alvim, 2004 |