Crónicas : 

Na Verdade a Mentira nem existe !!

 
Na Verdade a Mentira nem existe

Você já mentiu? Não fique nervoso! Veja o porquê logo abaixo!!!

Na verdade a mentira nem existe!

Na verdade a mentira nem existe. Tem mentira que se torna verdade. Ela já nasceu verdade apenas precisou do tempo e das pessoas para solidificar. O filosofo sertanejo João Carcule já dizia isso ao seu cachorro Toroosco e ao seu burro Libuno. O que há é uma focalização bifurcada do olhar. E completava: “Acontece que vivemos num mundo virtual e a palavra não dá conta de referir-se a totalidade dessa realidade”.

Uma pessoa que inventa história, não pode ser chamada de mentirosa, ela está calçada na realidade vista pelo seu ângulo ou até mesmo por seguir um dos recursos literário da criação: o ponto de vista. Um advogado sabe quantas verdades e quantas fantasias já foram consumadas como real dentro de um processo criminal.

Era outubro. Era dia da criança. Um pai saiu de casa para cumprir o papel social ditado pelo consumismo: presentear o filho naquele dia. Lá foi ele pela estrada a fora como uma ovelha a ser devorada pelo lobo no cadafalso capitalista. Pegou o seu vale transporte subiu no coletivo, como sempre lotado. O filho puxado a reboque pela mão como um cãozinho na coleira, seguia ao pai num vai-e-vem entre os passageiros. Seus olhinhos esbugalhados revelavam duas razões: o medo e a alegria.

A primeira era a de se perder naquelas várias pernas adultas na frente de si, pela sua visão era uma floresta de pernas tecidas com todas as cores ditadas pelos estilistas da massa. Esta visão o impressionava e nem imaginaria que tantas pernas fossem empecilhos. As pernas sempre lhe favoreceram, agora essa realidade era nova e para ajudar a mão do pai, que sempre foram de confiança, naquele momento, suada não lhe dava segurança de uma boa viagem, assemelhavam o avião da TAM na aterrizagem na pista de Congonhas. A segunda era de alegria, entretanto somente quando pisou o primeiro degrau do ônibus. Depois? Foi uma outra historia. A emoção escondia-se no seu interior.

Caro leitor, ao olhá-lo por dentro qualquer um veria o coraçãozinho palpitar, nem era tum-tum com duas baquetas numa bateria musical, pareciam três. Duas para o medo e uma para o helicóptero: seu brinquedo, seu sonho de consumo.

O olhar das pessoas incomodadas, gerado por aquele enroscar de pernas no moleque, provocava um mal estar nos passageiros e no menino, para o seu repertório de lembranças assemelhava-se ao primeiro dia de aula na série primeira. Os dentes a mostra dava idéia de sorriso, porém era puramente a antítese barroca em pessoa. Acomodados num espaço pequeno num canto do coletivo e agarrados um ao outro. Um ligado pelo carinho paterno e o outro grudado pela cola da insegurança.

Um sorriso, agora de alegria, espalhou-se pela face do menino. Soube, pelo pai, que desceria na parada seguinte, portanto estaria próximo da aeronave. Dito e feito, a calçada já estava sob os seus pés, as sua pernas e as outras agora aliviadas. As dos outros seguiam o motor do ônibus, as dele para loja de brinquedos Roberto Presentes.

Na loja não tinha muita gente e nem que tivesse, já tinha na experiência do menino a luta na selva de pernas. Entraram e foram atendidos prontamente pelo vendedor:
- Posso ajudá-lo?
- Você tem helicóptero?
- Temos uma grande variedade, venha comigo!!!

O filho, agora, assumiu o comando, segurou a mão do pai e este, a reboque do menino, seguiu-os até o local. Os olhinhos do projeto de gente não paravam, eram como lentes paparazzos. Focalizavam e registravam tudo. Depois em casa, revisitaria as imagens e estas processadas e algumas até imprimidas e com certeza iriam para a lista de opções de presente no natal. Chegaram ao local.

O funcionário pegou o brinquedo e entregou ao pai. O homem olhou, analisou, torceu o nariz ao ver o preço na etiqueta e perguntou:
- Este helicóptero voa?

Nem precisou da resposta do vendedor. A mão do menino cresceu de repente e tomou de assalto o helicóptero, ergue-o numa altura acima da cabeça e com um barulho muito extrovertido provou ao pai e aos estranhos que o brinquedo não só voava como também já se tornara um especialista em pilotagem. Adquirira da escola da imaginação um brevê com parabéns e louvor.

O pai pagou o brinquedo e saíram da loja a pé, minto só o pai, o filho tomou um helicóptero. De volta para casa, no coletivo, nenhuma perna de adulto o atrapalhava, ele estava por cima, estava agora numa aeronave e mais, era O Comandante.
(ASantiago Derin)







Exercitar a leitura é alimentar o intelecto!!!

 
Autor
ramedaol
Autor
 
Texto
Data
Leituras
799
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.