Poemas : 

MADRUGADA

 
caminho às 4 da madrugada
pela rua condessa de são joaquim
calço sandálias uso camiseta e uma calça jeans rasgada
o dia nem ameaça sair do seu sono
e eu já não sinto medo de mais nada
um tipo me pede fósforo
ele acende o seu cigarro e segue
eu não digo mais nada
há um bar aberto e eu entro
- conheço o dono -
ele me pede notícias do futebol
falo qualquer coisa e tomo uma bebida
preciso dormir eu penso
a madrugada menstrua
vejo uma cor de sangue de mulher no céu
alguns pombos deixam os fios de alta tensão
onde dormiam
talvez os pombos me olhem com pena
um rato escapa de um bueiro
uma mulher triste me olha
eu sigo na rua
o rasgo do sol começa a escrever o dia
não se anda na condessa de são joaquim a tal hora
perdi o medo da vida
mas nada mais me apavora
ando como se andasse num cemitério de letras
cada palavra é um defunto que me olha
deus do céu preciso mais é escrever um poema
qualquer poema

- acho que fiquei um pouco mais distante de mim


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júlio

fev. 2010


Júlio Saraiva

 
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Julio Saraiva
 
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Enviado por Tópico
Henricabilio
Publicado: 20/02/2010 10:56  Atualizado: 20/02/2010 10:56
Colaborador
Usuário desde: 02/04/2009
Localidade: Caldas da Rainha - Portugal
Mensagens: 6963
 Re: MADRUGADA
Madrugadas que definem o poeta e a sua forma de estar na vida e na poesia...
A arte vai beber a todos os instantes, pois em tudo existem um motivo para estar e para criar.
Por aqui as madrugadas caminham gélidas e dispersam a poesia; e o dia vem acordar só pelas 07,30 horas, por que para tudo existe um tempo e um propósito.

Um abraçoo!
Abílio

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 22/02/2010 12:44  Atualizado: 22/02/2010 18:29
 Re: MADRUGADA
Escrever um poema, pode bem ser a melhor das receitas para ressuscitar cada uma das palavras defuntas no cemitério de letras, a que outro chamou também o das palavras «em estado de dicionário».

DM