Não sei o que nos espera
do outro lado do rio,
se um barco a esmo,
se um pescador remando
Não sei o que nos espera
do outro lado da raia,
um vulto, sombra de casebre
um ódio que vem por
Não sei o que nos espera
do líder, mesquinha promessa,
corrupção é o que fazemos e sofremos
e, na gaiola só ficam os pássaros da liberdade
Não sei o que nos espera
Ilha Grande, prisão da gente que se rebela,
o refúgio das paixões amargas que o povo sente
e, morre sem encontrar a terra prometida
Não sei o que nos espera
cobrir o verde lugar de erupções líticas
encostas onde se consome a paz do mar
do jardim artificial, do bucólico não mais existe
Não sei o que nos espera
na outra margem do Rio de janeiro a dezembro
alto preço da especulação, destruição consentida
e, a natureza cobra pela própria sobrevivência...
AjAraújo, o poeta humanista, a propósito da prisão de presos políticos na bela Ilha Grande, durante a ditadura militar e de sua progressiva desativação com a anunciada abertura pelo regime de Geisel, escrito em setembro de 1975.