Poemas : 

Jardins d'Inverno

 
Na noite estremunhada de palavras ávidas
voavam ventos agonizados em roda livre,
suspensos a crinas de bestas inquinadas.

Cavalgavam-se distâncias
na dissonância de cascos ruidosos,
na fúria e na inconstância
espumada das bocas afadigadas dos animais.

Os trevos de quatro folhas
dos dias desiguais deslizavam a esforço,
derivados, sem corpo, substrato
ou caule, lagos invernosos,
enfarpelados de nenúfares roxos.

Ausentes das margens, cisnes astutos
respigavam-se em agudos guinchos,
grasnando, hasteando imaculadas pescoços
ao vítreo líquido do espelho das águas
... ao espelho do lago, em sinuosas danças
sem rostos, em gestos sem palco,
projectando-se em sombras no negro do asfalto,
… densas, de apenas crenças.

No Inverno dos actos,
no algodão plúmbeo de milhões de nuvens,
soltam-se por fim todas as chuvas.


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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
Carla Costeira
Publicado: 15/07/2007 12:11  Atualizado: 15/07/2007 12:11
Colaborador
Usuário desde: 16/02/2007
Localidade: Sintra
Mensagens: 918
 Re: Jardins d'Inverno
Olá doce Mel,
Soltam-se as chuvas com a beleza dos teus versos...
Bjs amiga

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 15/07/2007 13:47  Atualizado: 15/07/2007 13:47
 Re: Jardins d'Inverno
A sua poesia Mel, é capaz de mostrar toda a beleza dos mais tristes e invernados jardins!
Um beijo.