Tempestade tenebrosa e fora de hora
O que ao meu Amor causa muito medo.
Não digo mais medo. Digo agora receio
Dos relâmpagos em mil ramos lá fora.
Receosa se recolhe e se enrosca em si.
Seus olhos atônitos percorrem o espaço.
Quando eles se encontram em mim
Vem desesperada para os meus braços!
Não faço nada. Deixo-me estar e a sorrir.
Pois ela mais me aperta a cada estrondo
Quando a luz azulada invade o cômodo
Beija-me num momento único... Sem fim!
Lá fora o vento sacode nossa velha roseira.
De fundo os risinhos das pombinhas juritis
Ocultas e esparramadas pelas tantas rameiras
Do gigantesco pé de gameleira que existe ali.
Orquestra musical dos infindos pingos caídos,
Perdidos entre as flores do meu belo jardim.
Lavam as minhas begônias, tulipas e lírios.
Avivam as pétalas das violetas e dos jasmins.
As águas descem em cascatas para os rios,
Numa labuta bonita percorrem os confins
Do mundo subterrâneo, escuro e tão frio
Nunca pensando por um Salvador Dali.
Nada faço. Deixo-me estar e a sorri.
Pois ela mais me aperta e se assanha.
Como sempre a chuva termina na cama.
Quisera eu que todo dia chovesse assim!
Gyl Ferrys