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sem número

 


. façam de conta que eu não estive cá .






estranho: a tua voz grita por mim por entre os dentes deste corpo que é meu, escava nas mãos uma nuvem, constrói um céu, talvez exista um lugar para sermos felizes, talvez só na longevidade das mãos, na longevidade da voz, a tua, talvez. nascemos e morremos nos contrários, engasgados com o pó da terra, sufocamos de medos, feitos de afectos gememos, abandonados. aí onde tu estás, onde eu já estive, onde volto sempre que morro (e morro tantas vezes entre a vida que nem sei se hei-de nomeá-la mais de morte).para onde vais assim só não vás sozinho, que os lugares de sermos sós são uns dos outros, como nós. quero um lugar, um espaço-arvoredo onde crescer, um corpo para abraçar, a certeza da voz. eu sei, conheço tão bem esse gosto, gelo na boca, neve nos olhos, és como eu: inverno. estranho ao dizê-lo mas o amor é este exacto momento em que partimos, um para cada lado, e quantos mais lados houvessem mais nos partiamos.

 
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Margarete
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Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 17/02/2010 22:28  Atualizado: 17/02/2010 22:28
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2008
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 Re: sem número
Olá Margarete. Só para saberes que li.
Beijinho

Enviado por Tópico
António MR Martins
Publicado: 17/02/2010 22:36  Atualizado: 17/02/2010 22:37
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Usuário desde: 22/09/2008
Localidade: Ansião
Mensagens: 5058
 Re: sem número
Mar,

Ler-te é desfrutar da plenitude, angariar conceitos e pensamentos.
Ler-te é elevar a palavra à sua maior qualidade, com a possibilidade de se afirmar.
Ler-te é magnífico... óptima é a tua escrita.

Beijinho

Enviado por Tópico
Caopoeta
Publicado: 17/02/2010 23:07  Atualizado: 17/02/2010 23:07
Colaborador
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Localidade:
Mensagens: 1988
 Re: sem número
Que outra noite chega tarde amor
Que outra noite irrequieta de sentimentos de quem foi
o corpo sofrido entrega à terra,
À arvore que fazemos parte
E rasga paisagem dos abraços
Mar destruído
Roupa que seca no corpo nu.
Bem te conheço
Neste rio de emoções das algas
As que se atiram ao fundo do sonho
E ali se deixam ficar
Caras pálidas,
encontras no regresso a casa
A casa que não te quer porque
Sempre fomos das ruas
Dos escritos zinias
Dos caçadores de notas vocais: gritos
Sim
Será este poema este nome
Deixar que o dia chumbo
Transforme a lava em larva desculpável
Queria-te dizer antes da noite
Que por aqui estou a acenar-te
E beijar-te as palavras.

Enviado por Tópico
Branca
Publicado: 17/02/2010 23:29  Atualizado: 17/02/2010 23:29
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 Re: sem número
Margarete, no teu texto vi o desencontro e ao mesmo tempo a necessidade vital de duas pessoas.
Tudo fortemente expresso, intensamente sentido.
bj.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 18/02/2010 00:16  Atualizado: 18/02/2010 00:16
 Re: sem número
Sempre exelente a tua escrita, mais uma vez dou-te os parabéns,

um beijo

Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 18/02/2010 00:22  Atualizado: 18/02/2010 00:22
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 Re: sem número para mar
sem número e sem comparação possível.

o teu texto é um corpo.um corpo belo e com tudo lá dentro.único.dou-te a mão sempre que te leio.

um grande abraço,mar.até um dia destes...

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 18/02/2010 00:26  Atualizado: 18/02/2010 00:26
 Re: sem número
não, não estranho as tuas mortes, os teus invernos. leio-te à quilómetros de cacos espalhados pelos carreiros lúgubres por onde te partes e regressas. assim como eu parto e regresso para ler mais um sol através dos teus cacos translúcidos.

bjs