Um súbito desejo me domina,
sabe, aquela vontade de correr,
de ecoar o grito, de soprar a chama
algo de soltar o corpo, libertar a essência...
Pois hoje, sorrio alma adentro,
percorri um pouco do tortuoso caminho
tantas vezes afrontado e esquecido
Agora acalmo meu coração sofrido
Enfim, será que um dia encontrarei o sorriso?
Que paire no ar a dúvida que acalenta o sonho
Que pise as pedras que pavimentam o meu rumo
O que me importa agora é ser "eu" um pouco...
Em completo silêncio permanecer
Para ouvir os pássaros no entardecer
Ver o luar surgir por trás dos outeiros
E o amor em flor, brotar nos canteiros...
Que fluam as derradeiras águas do verão
O outono afasta os sombrios pensamentos,
As árvores cobrem-se de folhas
E sabe Deus quantos frutos darão.
E nesta elegia me pego sorrindo
feliz, saltitante, caminhando
ombro sem fardo, vida mais leve,
a sensação de pousar suavemente...
de volta de minhas abstrações,
para curtir todas as emoções,
que esta vida dura, mas fecunda
me doa esta oportunidade única.
AjAraújo, o poeta humanista, escrito em abril de 1975, revisitado em fevereiro de 2010.
Imagens: Cinema Paradiso