Poemas : 

Dias melhores virão

 
Dias melhores virão


Ainda machucado, por tudo o que ele mesmo escolheu,

O gigante sente, senta e pensa,

E consegue ver-se dividido em dois homens.

Um velho e um novo.



De repente, sem entender direito porque,

Ele percebe alguma coisa viva,

Se mexendo dentro dele.

A sensação era como se falanges, legiões de outros seres,

Começassem a tomar conta de seu corpo e de sua alma.



Só que dessa vez, não parecia ser mais uma de suas crises,

Que ele já conhecia tão bem,

Dessa vez era diferente.



E o gigante então ficou assustado,

Afinal, ele passara por tudo na vida,

Menos aquilo.



Foi quando ele se levantou e começou a falar sozinho.

E de sua boca saíam palavras estranhas,

Que ele nunca havia dito.



Sob sua cabeça os pensamentos pairavam,

E traziam à língua coisas como,

Caráter, harmonia, serenidade, equilíbrio e sanidade.





Mesmo com o medo corroendo suas entranhas,

O gigante seguiu seus passos, um a um,

Tentando descobrir o que estava acontecendo com ele.



Ao invés das forças que ele sempre sentira puxando-o prá baixo,

Ele agora sentia outras, que o impulsionavam para o alto.

Foi então que o gigante conheceu o verdadeiro pânico.



E quando não sabia mais o que fazer, ele olhou pro céu.

E como por um milagre, ele reconheceu um astro,

Que tinha estado exatamente naquele lugar trinta anos antes.

Exatamente no dia em que ele nasceu.

E nesse momento, o gigante chorou como uma criança,

E sem explicação, seu coração ficou leve como um pena.



Ele entendera que um portal se abrira em sua vida.

E que só dependia dele entrar ou não.



E por nunca ter se sentido tão bem, ele disse sim,

Como se uma multidão estivesse a seu redor para ouvir.



E tão rápido quanto a luz, um arrepio cruzou,

Seu corpo como uma flecha, e mesmo sem querer,

Ele virou o pescoço e olhou prá trás.

E viu um homem velho que se despedia dele,

Com um sorriso de alívio no rosto.



Mesmo percebendo que era ele mesmo,

O gigante sentiu paz, e suas pernas pararam de tremer.



Depois de tanto andar naquela estrada,

Ele chegou a seu fim, e deu de frente ao bar,

Que freqüentava diariamente, há anos.

Na porta do bar, seus amigos alegres ao vê-lo,

Com copos de cachaça à mão, o chamaram,



E ele, do lado de fora, parou por um instante,

Olhou fixamente nos olhos de todos e sorriu,

Um sorriso que os deixaram tristes na hora,

Afinal, não há quem não conheça um sorriso de adeus.

E sem dizer uma palavra, o gigante seguiu direto prá casa.



Ele não via a hora de poder apresentar à sua família,

O novo homem que agora pisava o chão do planeta Terra.



Um homem que parecia não ser ninguém,

Mas que já era um gigante,

Um gigante que ainda ia nascer.



Paul Sampaio
Salvador/BA, 1 de abril de 2001 – às 3:54:28 horas


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Paul_Sampaio
 
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