Dias melhores virão
Ainda machucado, por tudo o que ele mesmo escolheu,
O gigante sente, senta e pensa,
E consegue ver-se dividido em dois homens.
Um velho e um novo.
De repente, sem entender direito porque,
Ele percebe alguma coisa viva,
Se mexendo dentro dele.
A sensação era como se falanges, legiões de outros seres,
Começassem a tomar conta de seu corpo e de sua alma.
Só que dessa vez, não parecia ser mais uma de suas crises,
Que ele já conhecia tão bem,
Dessa vez era diferente.
E o gigante então ficou assustado,
Afinal, ele passara por tudo na vida,
Menos aquilo.
Foi quando ele se levantou e começou a falar sozinho.
E de sua boca saíam palavras estranhas,
Que ele nunca havia dito.
Sob sua cabeça os pensamentos pairavam,
E traziam à língua coisas como,
Caráter, harmonia, serenidade, equilíbrio e sanidade.
Mesmo com o medo corroendo suas entranhas,
O gigante seguiu seus passos, um a um,
Tentando descobrir o que estava acontecendo com ele.
Ao invés das forças que ele sempre sentira puxando-o prá baixo,
Ele agora sentia outras, que o impulsionavam para o alto.
Foi então que o gigante conheceu o verdadeiro pânico.
E quando não sabia mais o que fazer, ele olhou pro céu.
E como por um milagre, ele reconheceu um astro,
Que tinha estado exatamente naquele lugar trinta anos antes.
Exatamente no dia em que ele nasceu.
E nesse momento, o gigante chorou como uma criança,
E sem explicação, seu coração ficou leve como um pena.
Ele entendera que um portal se abrira em sua vida.
E que só dependia dele entrar ou não.
E por nunca ter se sentido tão bem, ele disse sim,
Como se uma multidão estivesse a seu redor para ouvir.
E tão rápido quanto a luz, um arrepio cruzou,
Seu corpo como uma flecha, e mesmo sem querer,
Ele virou o pescoço e olhou prá trás.
E viu um homem velho que se despedia dele,
Com um sorriso de alívio no rosto.
Mesmo percebendo que era ele mesmo,
O gigante sentiu paz, e suas pernas pararam de tremer.
Depois de tanto andar naquela estrada,
Ele chegou a seu fim, e deu de frente ao bar,
Que freqüentava diariamente, há anos.
Na porta do bar, seus amigos alegres ao vê-lo,
Com copos de cachaça à mão, o chamaram,
E ele, do lado de fora, parou por um instante,
Olhou fixamente nos olhos de todos e sorriu,
Um sorriso que os deixaram tristes na hora,
Afinal, não há quem não conheça um sorriso de adeus.
E sem dizer uma palavra, o gigante seguiu direto prá casa.
Ele não via a hora de poder apresentar à sua família,
O novo homem que agora pisava o chão do planeta Terra.
Um homem que parecia não ser ninguém,
Mas que já era um gigante,
Um gigante que ainda ia nascer.
Paul Sampaio
Salvador/BA, 1 de abril de 2001 – às 3:54:28 horas
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