Poemas : 

poema fúnebre e carnavalesco

 
todos os enterros são tristes
- por antecipação -
o cadáver ainda que não queira
é um canteiro de flores
dentro do caixão

eu mesmo quando frequento
velórios
pergunto onde fica o banheiro
não é bem para mijar
muito menos pra rezar
mas pra rir-me do morto assim por inteiro

inda ontem vi um defunto
embrulhado em paletó e gravata
socados algodão no nariz
parecia que me sorria
assim como quem me dizia
deixa-me cá ser feliz

as flores tinham mau cheiro
o padre olhava o relógio
pensando no seu dinheiro
eu pensava um necrológio

coisa boba e pesada
cai poeta e vai num samba
com a sua namorada

(todos os enterros são iguais
com as flores do mal ou demais)

____________________

júlio


Júlio Saraiva

 
Autor
Julio Saraiva
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 15/02/2010 22:23  Atualizado: 15/02/2010 22:23
 Re: poema fúnebre e carnavalesco
«(todos os enterros são iguais/com as flores do mal ou demais)»: demais!

DM


Enviado por Tópico
Conceição Bernardino
Publicado: 15/02/2010 22:25  Atualizado: 15/02/2010 22:25
Usuário desde: 22/08/2009
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Mensagens: 3357
 Re: poema fúnebre e carnavalesco
em demasia.

beijo


Enviado por Tópico
eduardas
Publicado: 15/02/2010 22:49  Atualizado: 15/02/2010 22:49
Colaborador
Usuário desde: 19/10/2008
Localidade: Lisboa
Mensagens: 3731
 Re: poema fúnebre e carnavalesco p/Júlio
Todos são iguais, só mudam os cadáveres.

Por isso prefiro ser cremada.

bj
Eduarda




Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 15/02/2010 22:55  Atualizado: 15/02/2010 22:55
Administrador
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Mensagens: 3764
 Re: poema fúnebre e carnavalesco
nem todas as cerimónias fúnebres são iguais, nem todos os sentimentos pelos mesmos também são, mas isso são pormenores ou pormaiores e que importa aqui e agora é dizer.te: " não vou ao teu porque tu nãos vens ao meu"...não forçosamente por esta ordem,ehehhe! Ah! outra coisa, achei demais este poema, quando morrer quero ser enterrada com ele.

beijo


Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 15/02/2010 22:55  Atualizado: 15/02/2010 22:55
Colaborador
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Mensagens: 7238
 Re: poema fúnebre e carnavalesco
é...não acaba a palhaçada nem com a pessoa já morta.o que vale não dá por ela,né?...
os outros,os que estão de fora do caixão, é que não podem evitar de pensar(alguns pensam):um dia vou estar ali eu.dentro daquele mal-cheiroso canteiro de flores.com gente a assoar-se pelos cantos e padres a olhar para o relógio.pelo meio de rezas e gravatas postas por obrigação.
ai, les fleurs du mal...
ai,meu poeta tão belo...
fossem todas as flores assim.naturais e sem mácula como tu.



Enviado por Tópico
miriade
Publicado: 15/02/2010 23:12  Atualizado: 15/02/2010 23:13
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Mensagens: 2171
 Re: poema fúnebre e carnavalescop/ Júlio
Nada poético é na ebriedade da morte
Sentir o cheiro das flores brancas(geralmente são)
O calor humano das velas acesas, em ultimas chamas
Flores e velas, companheiras de vida e morte...rs
maravilhoso e melancolico.
Bjs,Lu




Enviado por Tópico
Henricabilio
Publicado: 15/02/2010 23:24  Atualizado: 15/02/2010 23:24
Colaborador
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Localidade: Caldas da Rainha - Portugal
Mensagens: 6963
 Re: poema fúnebre e carnavalesco
Que melhor época que o Carnaval para satarizar a morte?!...

A Vida é tão injusta que a única democracia que ela nos oferece é precisamente a morte - embora até aí uns façam questão de pretender ser diferentes, repousando em jazigos preciosos, enquantos os outros vão diretamente para o pó.
(rss)
Um poema muito interessante!
Votos de Feliz Carnaval!
Abílio


Enviado por Tópico
Carolina
Publicado: 15/02/2010 23:57  Atualizado: 16/02/2010 00:00
Membro de honra
Usuário desde: 04/07/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3422
 Re: poema fúnebre e carnavalesco
Olá Júlio

É verdade tudo o que dizes, não temos que ter medo da morte.
Aquele floreado todo e aquele cheiro deixa-me muito agoniada.
o morto ainda que não queira tem que levar com elas, com as flores, com os comentários....

beijo