Na tarde que se finda,
vem lembranças do navio,
do mar, do porto, do capitão
que não partiu, ordenou ou existiu.
Na onda verdejante,
Corrente de vagos pensamentos embriaga
E desperta o pescador, tudo é fantasia,
E isto é a vida, nas histórias do velho lobo
À beira do cais está o garoto
a sonhar o dia em que será marujo,
a correr das sombras de Netuno,
e nas tempestades a guiar o timão...
Na boca da noite, tudo é mistério
a minha visão fica obscura,
quando deixo a lavoura, e miro o porto
no dia que se vai, a luz solar se apaga
Triste caminho no adeus, epitáfio
à riqueza da luz divina
sob velas, meu pranto destilo
em uma mesa da esquina, que me resta...
Penso na calma ceia
com a brisa na varanda
nas vestes consumidas e dignas
da minha roça querida a mil léguas...
Retorno ao tempo da ceia sem pão
da sopa quente, água de ribeirão
que tomava mirando o horizonte
na tarde que caía lentamente...
Que veio terei para banhar minh’alma
neste deserto urbano de poeira e asfalto?
Será preciso lançar-me ao rio de outrora?
Ou atirar-me nesta baía poluída do Rio?
Divagando, a noite chegou,
o belo farol já orienta os timoneiros
e percebo que a nau da vida aportou
e o velho lobo do mar acena para os marinheiros...
De primeira viagem (como eu).
AjAraújo, o poeta humanista, poema escrito em novembro de 1975.