Névoa, névoa seca que inclemente cai
sobre todos os rostos da multidão que vai
sobre os cumes, arvoredos
sobre os vales, os prados
Névoa, em qualquer dia
O que me traz e ao que me leva?
Saber ser gente no mais obscuro
Do dia, de névoa que cai no porto
Cai, e encobre os olhares vazios
E não deixa imagem à vista de cem metros
E estou à distância inda maior
De você, da vida, do teu amor
Névoa, névoa seca caia
O sol se esconde sobre teu alvo véu
Tudo é escuro na claridade do dia
A não ser uma visão, miragem ao léu
Névoa caia, caia mesmo, nevoeiro
Sobre a estrada do rumo perdido,
dos morféticos desejos, a esmo
Na solidão perene por que passo.
AjAraújo, o poeta humanista, escrito em junho de 1975.