Deixei lá atrás da vida sonhos que desejei mas não tive nem quero mais. As lutas trilhadas foram desgastes de equivocados que fugiram a dar lugar aos sonhos novos, o florido dos lagos de intensidades. Quando deambulei de olhos fechados por todos eles, desejei tanto e não tive. Fui esqueleto sentido no corpo quebrado e fiquei-me nas marcas do tempo que foi passando. Não quis recordar mais aqueles sonhos não alcançados, e o que sobrou de mim foi tempo perdido dentro do esqueleto que me suportava o corpo ardente de desejo. De uma coisa me alegro quando olho no espelho do tempo, por não me ter matado assim tanto. As rugas que ganhei até aqui, são momentos que vivi de lágrimas que me secaram, por isso não choro mais mágoas nem por sonhos que ficaram nas sombras, tudo deixei lá atrás da vida. Não quis nem lembro tamanho querer e nem quero ir a lado nenhum, apenas o coração comandou a vida como um soldado de armas fui amor que ainda trago. No caminho perdi-me nalgumas saídas de mim, vagueei por desejos repletos de quereres que também me fugiram nas noites tidas de insónia. Perdi tanta coisa por não querer agarrar e mesmo estando de mão estendida, fugi a não desistir de socorrer-me quando a alma mais me pedia. Fui procurada e ninguém conseguiu encontrar-me. Fiquei perdida no mar da vida e vi simples jardins e o perdão da realidade, nunca fiquei vazia na espera do que nada esperava, tive sempre o que nunca procurava. Assim foi até aqui a trazer-me aquilo que mais precisava. Há coisas destas assim tão inexplicáveis. Arrumei-me das coisas que me foram partindo aos pedacinhos, restou-me a sobra que de mim foi sonho perdido a proteger-me. Sempre entendi a vida desse jeito sóbrio que me dizia suavemente quando não alcançava os sonhos, não passa de um golpe de sorte. As montanhas que se ergueram teimosas fui contornando, do meu caminho colhi pedras indesejáveis que arremessei às bermas do infinito, tive o meu sol tépido. Na esperança de um dia partir num de tantos sonhos, saber ter outra história melhor do que aquela que deixei lá atrás da vida, consola-me. Agora saboreio sabores doces e leves que me tomaram tão especial para mim neste cercado de cada instante. Gosto de passear-me no passeio do presente que tenho nas mãos, sempre aparece uma flor mais amena e sorridente que me enlaça de carinho. Não preciso mudar de lugar nem procurar nada. Quero repousar a cabeça e sonhar sonhos lindos e novos, para nunca cair nos pesadelos que tem a vida. Assim vou seguindo o destino de alma erguida, a estrada teima-se longa, como o alcançado da borboleta solta à procura da alvorada do tempo que está para chegar. Vivo acordada do sonho, no entanto sonho perdida de amor que me cerca. Fazer dos jardins meus recantos coloridos é tudo que mais quero da minha mente, tenho todas as flores à minha volta a fazer-me companhia e tu ousas seduzir-me. Hoje sou soldado em busca do paraíso já alcançado, não sou pecado. Apenas vivo acreditando que meu amanhã virá mais lindo ainda, com tudo o que não tive e fui deixando lá atrás da vida. E quando a hora chegar quero ser anjo e saber dizer que valeu a pena não ter desesperado por coisa nenhuma.
Inéditos de Rosa Magalhães
(Imagens da internet)
com 3 Livros Editados
1º "Pérolas de Amor"
2º "Acrósticos de Poesias"
3º "7 Vidas de Afectos"
Rosa Magalhães