<object width="405" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/6i8264L8-N4& ... t;</param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/6i8264L8-N4& ... _BR&fs=&autoplay=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="405" height="344"></embed></object>
<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_vitOQ5DfqUU ... 6971.jpg"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 400px; height: 329px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_vitOQ5DfqUU ... hk/s400/2616971.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5435647622871601762" border="0" /></a>
<div style="text-align: justify;">A bruma matinal cobria as copas das árvores em redor da casa. Pedro ouviu, há muito tempo atrás, histórias de encantar e sonhar da boca de sua avó, sobre o rendilhar do nevoeiro nas manhãs outonais. A idade pesava nos ossos, sentado nas escadas viradas para o seu universo, o seu quintal da misericórdia das plantações da vida, via o mesmo, o incansável nevoeiro, a subir do vale para o alto da serra onde morava. Era como um manto opaco, que embrulhava em silêncio, o corpo faminto da protecção do aconchego. As pessoas da aldeia não gostavam dele, diziam que quando vinha do norte do vale era mau pronuncio mas, para Pedro, era algo único, encantado, algo que percebia interiormente e que era inexplicável aos outros. Adorava sentir-se no meio da bruma, vinha-lhe à lembrança os seus dias de meninice, quando, ainda, não existia luz eléctrica, nem água potável da companhia. Nesse tempo onde as almas se encontravam nos serões da aldeia à luz do candeeiro de petróleo. Hoje, com os seus 87 anos, ainda se lembra dos contos e lendas daquela terra. As mulheres juntavam-se a contar os bruxedos que existiam, os lobisomens, os penados, os que foram transformados em cavalos…uma panóplia de situações que aterrorizavam os mais novos que ouviam as referidas crenças. Os homens por sua vez bebiam o seu copo, sentados no escano, cantarolando as histórias do dia-a-dia, as sementeiras ou então sobre algum rabo de saia de alguma moça casadoira da vizinhança. A escuridão cobria por completo a aldeia. Caía, assim, o pano negro sobre o encantado lugar do repouso dos valentes. O sino da igreja tocava as doze baladas…era tempo de silêncio, tempo em que os espectros viajam pelas calçadas gastas pelo tempo. Ninguém abre o mais pequeno postigo, tudo é fechado para que a noite prevaleça, incontornavelmente, senhora do limbo dos sonhos e histórias de encantar. Ouve-se lá ao longe o agonizante canto do noitibó, o pássaro das adivinhações, dos presságios e consumições. Pedro no seu quarto, separado por simples cortinas de pano, da outra divisão da casa, descansa no colchão de folhelho, carcomido pelo transpirar do corpo. São 87 anos de vida, de muitas vidas, de muitos sonhos, de muitas ideologias, mas de uma única maneira de viver – viver na honra da palavra, o valor mais caro da sua existência. A única coisa que realmente possuiu toda a vida!
Quantos Pedros e Marias hoje fazem falta neste País...
<p class="fr0">"É instrutivo ver os vários retratos que fazem de nós pela vida fora. Com traços lisonjeiros ou desagradáveis, entram-nos sempre pelos olhos dentro como estranhos, a perturbar uma paz que tinha um rosto habitual, familiar, a que estávamos acostumados. À imagem tranquila, sobrepõem-se outras inquietantes que não servem no cartão de identidade, e, contudo, nos identificam publicamente mais até do que a que nele figura. É que não se trata de neutras fotografias. São perfis apaixonados, justos ou injustos, com as virtudes e os defeitos cruamente patenteados. Quem um dia nos lembrar, é por eles que nos lembra. Somos o que nós sabemos, e parecemos o que os outros dizem de nós."</p> <span class="aut"><a href="http://www.pensador.info/autor/miguel_torga/" class="autor">Miguel Torga</a></span> ( O Homem que falava com o granito que o viu nascer)
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"Quanto maior a armadura, mais frágil é o ser que nela habita!"