Revirei os olhos quando se acresceram rotações translativas do extenuado, tremelicaram após viagens por pórticos de vigílias translinguísticas, peso consciencial de gravidade jupteriana que agora se horizontalizava, balanceava entre tempos de esquecimento até uma lembrança esquecida, e a resignação assumia funcionalismos neurológicos extravasados do concentrado. Eu queria a locomoção. Mas comprovei diagonais, e os horizontais perpendiculares que não o eram, desciam e subiam aos mesmos contextos, arquejos em formigueiro que percorriam a incerteza dos angulamentos por relação a uma relação que não conseguia potenciar relacionamento. Mas o nevoeiro era reticular.
A visão não visionava paradoxos, e a deturpação de raios solares atingia de frente as ofuscações à luz. Remexi nos bolsos que não estavam, vestia uma outra coisa, um outro fato preto imaculado quebrado por uma forca verde, mas as mazelas rabugentas apalparam óculos, mais rapidamente se encaixaram no rigor das orelhas. Apurada a visão gesticulei em frente das pupilas e a neblina dissipou-se embora a gravata se tenha mantido.
Inquiri no perplexo o que era aquilo, quando arregalei os olhos digerindo uma suculenta clarividência no imediato tudo era um vasto areal de fina areia devida à nudez dos meus pés, pequenos grãos negros que absolutizavam os horizontes do perfeito negrume, já a interrupção era a espaços distantes rasgada por cactos verdes. No paisagístico eu não era fotossintético, mas as tesuras eram aleatórias.
Perguntei aos grãos se eram deserto, desenharam-se num “sim” imenso que temia a minha distracção maciça, relacionei o timbre do proferido e dissequei a lucidez que não obstante era.
A temperatura amena das minhas entranhas estava em simbiose com uma outra feita entre a forca verde e o fato negro, até mesmo das simbioses de simbioses com os cactos e o areal, pois era infindável a simplicidade do estranho, e o sinuoso era rectidão de perder as vistas, nada mais a menos nem menos de mais do que isso, já o resto não era nada, nem por pretos esverdeados com contornos de verdes escuros. Segurava nos olhos.
Instintivamente comecei a caminhada, pois que tudo o que se extravasava interessante o seria do lado de fora, com os interiores emocionei fracassos perceptivos e da memória que não estava me não lembrei de onde tinha adormecido, ou nem isso pelo provável. Acordei com a retrospecção uma introspectividade.
Lembrei-me que as camas eram confortáveis quando adornadas com madeiras polidas talhadas pelo templo de kajuharo, e que as banheiras eram nirvanas de limpeza quando nelas cabiam vários de mim na carne e no osso desvirginados. Soube na memória que as erotologias eram feitas por felinidades listadas a cabedal que chicoteavam orgasmos quando se humidificam morangos ao vinho durante a fricção, e que as luzes eram escravatura activa quando se batem palmas passivas e elas não se apagam nem intermitem. Pois que os electricistas eram inquisidores das penumbras como as vontades urinárias são a desgraça do esoterismo sexual que não se julga interruptível, finalmente, nos matadouros a morte era dourada.
Subrepticiamente satisfeito me encaminhei no tempo intemporal de solidão com areias, acompanhadas aos acordes inaudíveis enfadados que se masturbavam na unidade mórbida da lentidão lenticular, já os bocejos saiam aos pares e a locomoção detinha falhas ímpares pelo rectilíneo atmosférico. Retorcia-me o juízo.
Insultei cada grão de areia em conversa privada sem paralelos, enquanto no entretanto tentava arrancar a forca do pescoço com os pés, mas era a coleira que se mantinha, levava-me a passear sem a benesse esporádica de contextos serem pingados de urina no sítio estratégico de batalhas que inexistiam, nem tão pouco me invoquei ao apetite clamado à marcação territorial, porque pior, nos seguintes mais concretos do esguicho as pontiagudidades dos cactos faziam-me tremer em integridades penianas.
Porque teriam passado os tempos incontáveis nas suposições de o continuarem a ser, já o suor aquiescia no existente com os extralatejamentos intramusculares, pois a boca secava em gretas pseudovúlvicas, relacionei a língua aos lábios como autómato libidinal, que afinal não o era, asseverava-se a frustração no que era desprovido de humidade. Mas ouvi algo.
Afiei os tímpanos.
Era como um gemido proferido por um outro gemido menor, e todos os que se antecediam na corrente genealógica ecoavam, provinham em cascatas espaçadas na multiplicação virgulada da distância infindável, engoli em seco e antecipei a direccionalidade, rompiam-se musculaturas desgastadas mas o tangível era futurizado na revelação mística, o velocípede era supersónico, ou quase.
A ofegância atingira o gemidocêntrico, era um esquilinho em fato idêntico ao meu que jazia prostrado nas securas, pêlo sugado pálido cortado a uma forca verde, respirava com a lentidão dos grãos de areia feitos moluscos, e quase se dissecava nos gemidos das organizações internas, a pulmonarização decrescia, contemplei-o no esperado quando gemeu após um último sopro de vida, “Cuidado com os cactos…”.
Os porquês não se responderam e quando respondi às perguntas que não existiam ponderei a estupidez do que não tinha aludido, lucidamente eram então os últimos sopros de vida, após o final, ultimatos ao império da andança, com nada mais a fazer o fiz.
Continuei na deambulação com o lábio inferior a pedir clemência em beicidade exponenciada ao só, o corpo dissecava por dentro e senti vários órgãos a encerrarem funcionalidades sem aviso de despedimento prévio, e também porque já temia que não salivavam.
As humidades internas desapareciam na rapidez das ausências de hipóteses, ficavam os sanguíneos, e as bancas com bebidas frescas eram falências desde o caos, num outro sítio talvez inexistissem no idem e nas aspas, e como um mero cantil de esgoto minimamente líquido era a erotização hiperbórea do perfeccionismo termodinâmico.
O infinito agonizava-se no crescimento das exponencialidades, deixei o corpóreo tombar ao acaso quando já não lhe coordenava as movimentações que nem sabia o serem, a boca abrira-se aos máximos rasgando-se até aos ouvidos, e o bramido pelo aquoso codificou-se nas pestanas em morse, alguém de nenhures o não compreenderia, ou um contrário. As concentrações das finalizações orientaram-se para a mão esquerda, introduzida à aleatoriedade em todos os bolsos encontrados e naqueles por descobrir, às minhas vestimentas e alheias, revolvidos, remexidos, e dava-se a extracção de uma faca que antes não se fazia existir, afiou-se e luminou-se por si mesma, resplandecia sem minhas necessidades que a vissem.
Arrastei-me até um cacto escolhido por amor ao próximo, cerquei-o por garantia à minha hipótese de fuga ao seco, derivada puxada faca ao máximo do futuro impacto, jorrante profecia dos líquidos dos mistérios, e os espinhos tornaram-se plurificados e expressivos de saliências, já o brilho espinhado se metalizara.
Ouvi-os em saída disparada e no instante me senti trespassado às centenas.
Rapidamente o corpo se alisou à areia, vencido enquanto pensante de sangues vertidos que se entranhavam nas securas arenosas, mas ainda o devir dos lambidos em intensidades do humidificado lingual, puro êxtase mortuário nas liquefacções vermelhas bebidas, e após a escuridão das areias se tornar na mera escuridão, logo consequente do último suspiro, a vociferação do gemido para o sucedâneo, “Cuidado com os cactos…”.
© Bruno Miguel Resende