Enviado por | Tópico |
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Alexis | Publicado: 06/02/2010 16:16 Atualizado: 06/02/2010 16:16 |
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Re: 101
pois "a leveza" muitas vezes é dispensável.a tua escrita está acutilante.não se abstem de referenciar tudo o que se vai decepando por aí,por muito doloroso que seja.juntemos os pedaços de carne.podemos cosê-los com a agulha grossa e a linha crua das palavras.
podemos. |
Enviado por | Tópico |
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Margarete | Publicado: 24/03/2010 23:42 Atualizado: 24/03/2010 23:42 |
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a persistente solidão de luís quintais
A persistente solidão. Nada veio mudar isso.
É madrugada. Estás recolhido no mais profundo sono. Tens essa virtude antiga de sair do corpo e caminhar pelo ar, flutuando, celebrando a primeira luz que desponta. O teu corpo está submisso. A tua alma voga, mas parece querer despenhar-se. Do teu corpo brotam pássaros azuis. Perseguem-se, brincam junto ao tecto, gritam. É a vida que se esvai. Desde o início que é assim. A persistente solidão da tua morte que se prolonga. Nada veio mudar isso. Nem o que te atemoriza: o diverso da natureza, as imaginadas formas que descreves, os fetos gigantes, uma outra glaciação sepultada sob a casa, esta tristeza que se acerca do teu sono. Progrides pelo quarto. Pressentes o mundo, esse palco de fogos. Denuncias o visível. Observas o teu corpo. Pássaros azuis brotam de ti no mesmo sonho de todas as noites. Trazem-te as memórias que subsistem ainda, a pouca vida que te resta. Recordam-te a infância: um país de migrações e fugas, de enigmas em que descrês, o que te arrasta, o que te magoa. Recolhes as cinzas dos teus dias, as que se espalham pela violência do voo, da breve ficção enunciada. A persistente solidão desde o início. Desde o início, a tua morte e este movimento de ligar as máscaras que se soltam do teu corpo adormecido. Tudo regressa à normalidade, à tranquilidade do teu sono. A luz desponta inteiramente. Ergues-te para o pressentir da embriaguez e da simetria. Luís Quintais |