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101

 
- luís quintais -


. façam de conta que eu não estive cá .




""isso dói, essa merda dói", disse um certo Q.
quando lhe cortaram o braço pelo ombro."
luís quintais


o que fizeram de ti na noite, que outros rostos povoaram a tua face sem que quisesses. era como se fechasses os olhos para sempre, até morreres em paz, na memória que de ti tinham os meus olhos, e a minha minha boca - a estúpida da minha boca - a repetir-te os versos. choras, choro eu também contigo, que hoje não há na tua morte um homem dentro, e o que me restou (como se alguma coisa que reste chegue para acalmar a perda) foram coisas em movimentos, ideias, pedaços de ideias tuas. trazias um país ao colo. dói, eu sei que dói morrer com um país ao colo. mas olha, luís, os países são mais leves depois de mortos.





 
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Margarete
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Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 06/02/2010 16:16  Atualizado: 06/02/2010 16:16
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Mensagens: 7238
 Re: 101
pois "a leveza" muitas vezes é dispensável.a tua escrita está acutilante.não se abstem de referenciar tudo o que se vai decepando por aí,por muito doloroso que seja.juntemos os pedaços de carne.podemos cosê-los com a agulha grossa e a linha crua das palavras.

podemos.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 06/02/2010 16:21  Atualizado: 06/02/2010 16:21
 Re: 101
«os países são mais leves depois de mortos», ou mais pesados, tudo depende das pás de terra que os cubram.
Excelente texto.

DM

Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 24/03/2010 23:42  Atualizado: 24/03/2010 23:42
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Usuário desde: 10/02/2007
Localidade: braga.
Mensagens: 1199
 a persistente solidão de luís quintais
A persistente solidão. Nada veio mudar isso.
É madrugada. Estás recolhido no mais profundo sono.
Tens essa virtude antiga de sair do corpo e caminhar pelo ar,
flutuando, celebrando a primeira luz que desponta.
O teu corpo está submisso. A tua alma voga,
mas parece querer despenhar-se.
Do teu corpo brotam pássaros azuis. Perseguem-se,
brincam junto ao tecto, gritam. É a vida
que se esvai. Desde o início que é assim.
A persistente solidão da tua morte que se prolonga.
Nada veio mudar isso. Nem o que te atemoriza:
o diverso da natureza, as imaginadas formas
que descreves, os fetos gigantes, uma outra glaciação
sepultada sob a casa, esta tristeza que se acerca
do teu sono. Progrides pelo quarto. Pressentes o mundo,
esse palco de fogos. Denuncias o visível. Observas o teu corpo.
Pássaros azuis brotam de ti no mesmo sonho de todas as noites.
Trazem-te as memórias que subsistem ainda,
a pouca vida que te resta. Recordam-te a infância:
um país de migrações e fugas, de enigmas
em que descrês, o que te arrasta, o que te magoa.
Recolhes as cinzas dos teus dias, as que se espalham
pela violência do voo, da breve ficção enunciada.
A persistente solidão desde o início. Desde o início, a tua morte
e este movimento de ligar as máscaras
que se soltam do teu corpo adormecido.
Tudo regressa à normalidade, à tranquilidade do teu sono.
A luz desponta inteiramente. Ergues-te
para o pressentir da embriaguez e da simetria.




Luís Quintais