[i]Genoveva Lucena Beltrão[color=0033FF][font=Helvetica][i][i]
Aquela quinta-feira de Maio de 1984, apesar de em plena Primavera , estava cinzenta, e a chuva teimava em cair.
Luísa , tinha recebido uma segunda notificação , para se apresentar, pelas 9.00 h no Tribunal de Família – para formalizar o seu pedido de divórcio. Sabia, que iria encontrar o seu ainda marido e, talvez por isso… teve um cuidado redobrado em se sentir bonita, deliberadamente atraente !
Essa atitude , perturbou-a momentaneamente - atitude provocatória ou algo mais intrínseco?
Mas a chegada do seu advogado, tirou-a destes devaneios e fê-la cair na realidade. Afinal tratava-se do seu divórcio , sabendo que iria encontrar pela frente a guarda dos seus dois filhos adolescentes - O Gonçalo com 14 anos e o Renato com 12 e a responsabilidade enorme de os educar s ó z i n h a . O Pai , sempre estivera ausente e , quando Luísa lhe colocou a possibilidade de ser ela a ficar com a guarda dos filhos sentiu que Paulo , seu marido respirou de alívio.
Luísa reviu com o advogado, tudo que previamente tinha sido acordado sem resistências ou entraves de parte a parte. Seria um “divórcio amigável” – como muitos outros que naquele momento estavam, certamente, a decorrer nas várias audiências daquele Tribunal de Família.
Paulo acabava de chegar , sacudindo a gabardine molhada . Luísa recebeu-o com um beijo indiferente . Este cumprimentou o advogado , que a pedido de Paulo, era também seu advogado e sussurrou “estás muito bonita!”. Luísa sorriu e… agradeceu.
Uma funcionária do tribunal , interpelou-os, pedindo que entrassem na sala, pois o Sr. Dr. Juiz , já lá estava. Entrámos os três – não houve palavras amargas, nem
acusações mútuas . O Juiz cumprindo o seu papel, ainda pediu a Marlene e Paulo, que reflectissem melhor, ainda estavam a tempo de tornar aquele passo reversível.
Luísa e Paulo olharam-se e limitaram-se a confirmar as suas intenções ao Juiz.
Foram lidas em voz alta , todas as decisões de partilhas e guarda dos Filhos : Os dois filhos do casal ficariam à guarda da Mãe. Esta ficaria com o apartamento que tinha sido de ambos e Paulo , ficaria com a fábrica e escritório de importação-exportação. Luísa recusou a pensão de alimentos a que Paulo ficara “obrigado”, por achá-la irrisória.
Tudo sem ressentimentos, fechara-se um contrato , como tantos outros que Luísa tinha fechado no seu escritório com inúmeros clientes nacionais e estrangeiros.
Paulo convidou Luísa e o advogado para almoçar . No fim do almoço Paulo e Marlene regressaram ao escritório , para uma reunião mais longa sobre os dossiers pendentes, que careciam de explicações mais detalhadas.
Quando entraram, a secretária informou Luísa , que o Dr. Osório já se encontrava à sua espera. Luísa , olhou para a sua secretária com um olhar interrogatório. Esta lembrou-a que a reunião estava marcada para as 15h.
A chuva não parava de cair… Luísa lembrou-se da agenda dessa reunião - tratava--se de organizar uma auditoria às contas da Empresa e, tinha pedido a um amigo, que lhe indicasse um economista reconhecido - o tal Dr. Osório, com quem Luísa apenas tinha falado ao telefone. Foi servido um café , feitas as apresentações e Paulo percebendo que Luísa iria estar ocupada, despediu-se, marcando com a secretária uma outra reunião.
Conversaram , consultaram pastas e arquivos durante mais de duas horas. Luísa estava exausta e com uma vontade enorme, de se reencontrar com os filhos (tinha a árdua tarefa de lhes explicar que não houvera acordo e o divórcio se tinha mesmo consumado ). Pediu que agendassem novo encontro de trabalho no dia seguinte.
Depois de uma difícil , mesmo penosa conversa com Gonçalo e Renato, foi levá-los aos Avós onde iriam jantar.
Luísa voltou ao apartamento , preparou um banho relaxante, enfiou um roupão de felpo branco , olhou pela janela do quarto para confirmar se continuava a chover, deitou-se em cima da cama e tentou relaxar. Na sua cabeça pairavam muitos pensamentos dispersos, que se cruzavam – os filhos - a empresa – a venda do apartamento e, para seu espanto o Dr. Osório. Francisco , seu primeiro nome, emaranhava-se mais do que Luísa desejaria, no gravador dos seus pensamentos. É certo que o Francisco – talvez uns 15 ou 18 anos mais velho que ela, era um homem atraente…
Mas . tinha-o conhecido apenas há algumas horas e, logo num dia com tantas outras prioridades. No dia seguinte, voltariam a reunir-se em trabalho e iria confirmar, que o Dr. Francisco Osório lhe era completamente indiferente e, continuariam a consultar pastas e arquivos. Assim foi , enfrentaram mais um dia de trabalho e despediram-se, com encontro de trabalho marcado, para a semana seguinte.
Nessa mesma noite, quando ouvia Jacques Brell - o Francisco voltava a invadir a privacidade dos seus pensamentos. Havia algo nele, que a inquietava, diria mesmo que a desassossegava.
Durante a semana que precedeu a nova reunião de trabalho com Francisco ( porque não Dr. Osório?...), Luísa que tentava assoberbar-se em trabalho, ainda teve tempo para pensar como lhe iria ser difícil abandonar aquela Empresa criada e desenvolvida por ela . Aquele escritório situado numa moradia antiga, com paredes de pedra e um pé direito enorme – a secretária, a mesa de reuniões, os sofás, os reposteiros, as serigrafias - tudo tinha o seu toque pessoal, tudo fora procurado com paixão – afinal pensava ela, aquele espaço iria ser o “seu” espaço por muitos anos….! Em todas estas cogitações , Francisco não ficara de fora.
Passaram-se mais três semanas – as últimas que passaria naquele escritório . Vários encontros de trabalho com o economista Dr. Francisco Osório tiveram lugar. Foi também conhecendo um pouco mais do Francisco – casado há muitos anos, sem filhos, com diferentes interesses para além da Economia, havendo em muitos deles uma preferência comum.
Continua…….
"Vêmo-nos por aí !!!