Prisioneiros
O bater ritmado de botas no chão, não augurava nada de bom. Assim pensava um dos prisioneiros de guerra, às mãos dos homens do III Reich. Guerra sem razão - como todas a guerras. Não há guerras desinteressadas - é o que toda a gente diz. O cabo Tremp,autor daquele pensamento, tal como Henry, o sargento, tinham caído numa emboscada perto de Lorritt no auge da Segunda Grande Guerra. Presos e torturados, pensavam que não iriam aguentar por muito tempo sem falar. Falar, era trair os camaradas de luta, e passarem informações preciosas ao inimigo. A Gestapo sabia o que fazia. O cabo Tremp lembrava as muitas conversas que, sobre este tema, havia tido com o seu companheiro de infortúnio, antes de terem sido feito prisioneiros. Nesse tempo, o sargento Henry fora firme ao afirmar que, caso viesse a ser feito prisioneiro, jamais abriria a sua boca, para não trair os aliados. As palavras agora recordadas tinham passado de uma mera hipótese a uma cruel e aterradora realidade. “Antes a morte que tal sorte”.
Enquanto a guerra se mantinha acesa, com milhares de mortos e mutilados de ambas os lados, os nossos heróis travavam à sua maneira uma outra guerra, não menos avassaladora. O palco era uma pequena sala, onde o sadismo atingia proporções inusitadas. Destruindo a moral dos homens - destrói-se o homem, e daí à traição é um passo curto. Falar de direitos e deveres que devem ser tidos em conta quando alguém é feito prisioneiro, é chover no molhado. As Convenções Internacionais, não passam disso mesmo – convenções. “Guerra é Guerra”.
Nunca o cabo Tremp e o sargento Henry - tinham tido, como agora, a oportunidade de compreender esta triste realidade. A guerra é o inferno na Terra, se é que há inferno. Nas celas eram proibidas quaisquer conversas entre os prisioneiros. Era imperioso acabar, o mais depressa possível, a moral aos prisioneiros. Para mais, não havia forma de saber do andamento da guerra. Num momento de descuido do guarda, Henry, sussurrou ao amigo que tinha receio de não aguentar as sessões de tortura. O cabo ficou aterrado. O caso não era para menos. Ambos guardavam segredos que não mãos do inimigo podiam por em causa a vida de centenas de aliados.
Tremp temeu o pior.Henry sempre se mostrara um homem seguro nas suas convicções! Aliás, defendia as suas teses com argumentos muito convincentes! Tremp recusava-se a acreditar no que ouvira. Estava com toda a certeza a ter mais um pesadelo. Coisa normal, nos últimos dias, tamanha era a ferocidade das torturas.
Um soldado não trai. A Pátria assim o exige.
Num rompante abre-se a porta. Henry é levado para mais um interrogatório.
Na cela, o cabo Tremp, é assaltado por imagens assustadoras. O pensamento fá-lo avançar no tempo. O terror e o sangue misturam-se às imagens. Os homens da Gestapo não fariam pior. O cabo mal dá pelo abrir da porta…O amigo traz estampado no rosto, a dor da traição.
“ A Guerra é a Guerra”- avassaladora, terrível, apocalíptica. A Guerra não faz assassinos – palavras ouvidas vezes sem conta durante a instrução. A preparação é mais psicológica do que se pensa – as drogas fazem o resto. Quando tudo acabar, os sobreviventes voltam para casa…
Poesiadeneno
Poesiadeneno
*Na Segunda Guerra Mundial morreram mais de 70 milhões de pessoas,somando militares e civis.