Dias cinzentos!
Noites mal dormidas,
Sonhos desfazem-se
Como miragens
Pesadelos se descortinam
Como tempestades se formam.
Inquietam-me os segundos, minutos
Horas que passam na ampulheta
Caem celeremente os grãos de vida
Me atormentam os gestos feitos
como palavras murmuradas
Ao silêncio d' alma partida
Dias assim, choro reprimido
da dor deveras sentida
lamento de poeta nos portais,
dramas da existência humana,
Nestes tempos, afora outros
lá fora, a violência dizima os jovens
cá dentro, turbulência de vidas em conflito
d´adolescência perdida nos desencantos
Sentidos aguçados, angústia, depressão
No sofrimento das paixões cotidianas
Subitamente paralisam nossos filhos
Dúvidas e inquietações da vida moderna
Duro sentir-se impotente, reagir
Mas, sem perder o toque de ternura
Quando o impulso da raiva impera
Somente o freio da candura aplaca
Parece que toda a dor do mundo
Concentra-se à tua volta,
Como um vulcão prestes à erupção,
Dá os primeiros sinais de fumaça,
No querer simplesmente mudar
E no medo, ao deixar ficar,
Nas sutis manifestações
Do comportamento humano
Nos mecanismos de autodefesa,
Como julgar a singularidade,
Os gestos estereotipados
padrões de patologia e normalidade?
Na esperança de uma bonança
Após tempestade que se irrompe
Sobre nossas vidas, nossos lares
Nos resta a fé, coragem, esperança...
E na reconstrução dos sonhos,
e dos ritmos vitais, somente o amor
será capaz de suportar os obstáculos
e conflitos desses delicados momentos...
* Dias cinzentos...nestes tempos difíceis, o poeta sente, reflete o que vê à sua volta e em si mesmo... um desabafo!
AjAraújo, o poeta humanista, escrito em 7/5/03.
Imagem: Georgie Grie, neossurrealismo, "Ataque de Pânico".