De que serve ter o mar
E possuir no seu espelho as estrelas,
De que serve poder olhar
Se não podemos sequer vê-las?
De que serve a ambição
Que esconde em si o sonho
De que serve o perdão
Na amizade que encontra o chão
Se o futuro não é risonho?
De onde vem o poder da chuva
Que lava as lágrimas do amor?
Porque de tão doce que está a uva
Já perdeu o seu esplendor.
Porque se apaixonam amigos
Não dois, mas um deles só,
P’ra se tornarem inimigos
E descobrirem a amargura
De amar alguém que perdura
No ponto que outro ultrapassou?
Porque disfarçam aqueles que amam
Lutando pelo impossível
Sabendo que as Ninfas tramam
E as teias do tempo reclamam
O seu amor incompreensível?
Porque ama o amigo ingénuo
Com todo o seu coração
Destruindo o que é efémero
Destruindo tudo em vão?
É estúpido amar demais
Amar-se quem já se conhece
É estúpido lembrar os tais,
Amigos que nunca se esquece.
É estúpido nadar nas ondas do mar
E desejar chegar às estrelas
Quando de lá nos está a observar
A traidora Afrodite, envolta nelas.