Crianças correm alegres
e adoravelmente travessas,
o vento agita as folhas,
das abençoadas palmeiras
As ondas levantam areia,
as dunas viram escorrega,
se munem de pás e baldes,
começam a moldar seus castelos
Crianças e seus sonhos
suas bolas, bicicletas,
pastéis, milhos, pipocas,
bolhas de sabão, papagaios
Tudo no ar, terra e mar
na graça da tenra idade
no encanto da ingenuidade
sem maldade, sem julgar
Imerso nestas cenas bucólicas
- feito pescador que há tempos
lança o anzol nas marés altas,
ao crepúsculo, fisgando anchovas –
Sinto um nó na garganta,
como um aperto no coração
ao recordar a velha Praia Vermelha
palco poético, berço da minha iniciação
De quem em saudosos tempos,
de frente pro mar ao entardecer,
destilava devaneios, prosas e sonhos
entre as vagas horas antes do anoitecer
Aqui solitário feito um marujo
que retorna, após longa viagem,
à juventude do porto seguro,
mas, descobre que era miragem
Cai o pano, se anuncia o crepúsculo,
e com ele, se revela o espetáculo
da vida, descerra os tempos vividos
decerto me consumi muito nestes anos,
Devo confessar que não foram poucas
as causas e bandeiras que aqui desta Praia
ainda jovem abracei, desde a longa ditadura,
ironia foi morar cercado de prédios militares,
na demolida Casa do Estudante de Medicina,
assim como o prédio imponente da faculdade
só restam ruínas e um muro que simboliza
a truculência e a falta de liberdade
Tudo isto faz parte de minha trajetória,
da luta para passar no vestibular de medicina,
e estas histórias, amargas derrotas e suadas vitórias,
Mas, revigorado, eis que retorno, ao ponto de partida...
AjAraújo, o poeta humanista, poema escrito em julho de 1990, após retornar à Praia Vermelha, na Urca-RJ, local onde iniciou a jornada para o Curso de Medicina, na década de 70.