As coisas são como são. E perdoem-me a observação. Se o Pedro gosta da Diza, que é um modo de dizer, e se a Diza lhe corresponde de uma forma mais ou menos ideal ( porque nunca é ideal por mais que se pense que é...), as alternativas são três: Submeterem-se às burocracias da Igreja e do Registo Civil, passando pelas intelectualidades dos padres, a fim de fazerem grande figura. Ela, com um vestido até depois dos tornozelos, ornamentado com sorrisos púdicos e suspiros nervosos. Ele, com um fato, que se matou de escolher a camisa e gravata a condizer com não sei bem o quê...
A segunda alternativa:Assumir um namoro de forma exclusiva e transcendente. Isto implica que ao fim de uns anitos, ele, certamente, já não lhe aturará as birrinhas nem os beicinhos e esquecer-se-á do dia de S. Valentim!! Ela, por sua vez, ao fim desses anitos todos, já não se amuará quando ele olhar para o traseiro, em forma de coração, da vizinha que atravessa a rua com o semáforo vermelho.
Assim como assim, os sentimentos entram em acentuada decomposição, os sonhos passam à beira da mente. E blá, blá, blá...
Na terceira alternativa, entram o Zeca e a Adelaide que juntaram a tralha e pronto. É o jogo do "Hoje, fazes tu, amanhã faço eu..." Alugaram um apartamento T1 de acabamentos imperfeitos, com os rodapés sujos de estuque.
Estava, então, a Adelaide numa curtição daquelas que nos devassam todos os canais emocionais, quando o Zeca chega a casa, desgostoso com o patrão e com a vida. De modos que, quando deparou com a Adelaide semi-nua, enroscada a um canto do sofá com ar de vítima, passou-se da cabeça! Ele a trabalhar e a ser despedido sem justa causa e ela a curtir com o estudante do prédio ao lado! Era só o que faltava! E, ainda por cima, espalhado no chão, estava um par de peúgas CD de cor preta, prova irrefútavel da curtição-acto-infiel.
A Adelaide desatou a chorar, como qualquer mulher de recursos faria em semelhante situação.
Não houve divórcio, porque nunca tinha havido casamento na Igreja nem no Registo.
Só houve um homicídio. Um suicídio. E mais tarde, dois funerais.
As coisas são como são... E perdoem-me a observação...
Manuela Fonseca