a vontade de escrever é gigante como a vontade de dormir em cima dos poemas que nunca fiz. a mente anda atulhada de coisa que o mundo deita cá p’ra fora sem sentido nenhum. batem no peito a dizer que “sou bom”. mas o cordeirinho nunca sai com bom feito. lá vem o cair da noite e o corpo vira diabo a escrever só pecado. não sei como comecei este meu escrever. dei inicio a uma conversa de milhões de mentes caídas de tanto sofrer. por aí anda-se a passear ao frio do calor. sorte de uns usar chapéu. as palavras soltadas evaporam-se a transformar nuvens geladas que caiem desenfreadas no mesmo lugar. imperfeito. tão imperfeito este ser humano que dá dó. homens que usam cabeças suplementes e mulheres insuficientes. queria tanto agarrar a palavra certa e descrever de forma direita. por mais que consulte o dicionário não consigo decifra-la. deve andar pendurada em algum lado que não consigo vê-la. na verdade todos escrevem para alguém. certo. mas eu teimo em escrever só p’ra mim. só não sei a razão de publicar palavras sem nexo. ou porque carga de água amo editar os livros que escrevo. afinal nem sei bem porque estou aqui. não penses que isto é para ti pois também nem é para mim. apenas ouvi dizer num lugar qualquer que andam os poetas distraídos. se disser vingança agarrada à solidão das palavras que ressaltam em mim. não é verdade. ter desejo aprisionado nas palavras que teimam em ficar cá dentro como celas trancadas com grades de ferro. não. não é a mesma coisa. posso dizer que dentro de mim há um derrubar de barras de cimento. minha intuição leva-me a outro campo de visionamento. consigo ler nos meus lábios e ver nos meus olhos o que passa nas tuas cabeças. chegam a mim todas as imagens e as expressões lidas daqui são vossos rostos. então vou rir. vou rir de contente pois essa capacidade me assiste por direito e nem temo o incrível capaz de ir à minha frente sem olhos nem rabo que o segure de tão perto. todos já cadáveres sem nenhum feito inteligente. meu Deus. como sou capaz de virar o amor ao contrário e explodir o avesso. poderia esbarrar-me contra o diabo se fosse preciso para dizer bem no meio desses olhos que sou bem pior que todo ele. afinal a escrita pode ser realidade. e se ousares cruzar meu caminho escreve que te viro do avesso e agarro-te pelo rabo como se faz nos campos do exílio. ando aqui a falar de amor há tanto tempo e ninguém aprende nada. Que chatice. pensas que será para te distrair. mas se desço deste meu escrever encurto outras direcções a dizer que não penso igual a ti. nem me preocupa um pouco o que vais dizer. estarei eu a falar dum passa tempo. bate o eu mais forte no peito e teima dilacerar as palavras a ir mais longe que um único diálogo. vamos sentar frente a frente e falar devagar para que haja entendimento. querer até queria arrasar ver mendigos esfomeados de palavras de desculpas. mas esse dia vai chegar a magoar por tanta culpa. apanhado no sitio certo e clamoroso. afinal para quem nem sabia como começar ficou-se a divagar. achei outro eu dentro do peito. agora somos três com o mesmo sentimento forte. então agora que agarrei a palavra e achei um inicio já vou a meio com vontade de chegar ao fim desse começo. aquilo que não esperava era começar o novo termo. agora não escrevo para te amar. nem para me desculpar de coisa que nunca fiz. mesmo sabendo que depois do texto não deixo de ser eu como sempre fiz. seria capaz de ousar para te ver feliz. não vou lamber o poema para o satisfazer. nem vou agradecer por ler. nem vou perdoar quem o mal fez. nem dar-lhe o lugar ao amor porque essa coisa do amor é chata e nem sei porque toda a gente o quer ter. o verbo surgiu duma dúvida. começou o começar sem pressa de findar. mas não traz anjos de felicidade. resta dançar até novo dia raiar. termino o começar que deixou de ser. hoje. apeteceu-me ser o avesso.